09 setembro 2011

Roma está caindo!


Parece um pouco oportunista, e talvez o seja, mais nesse momento instituições, governos, ONGs e pessoas comuns estão lembrando onde estavam, e como vivenciaram a tragédia do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Por meu turno vivi de maneira própria e particular aquele malfadado dia, o quê pretendo relatar aqui.
Trabalhava naquele famoso sebo de Copacabana, era meu dia de abrir a loja. Cheguei no horário de sempre , comprei meu café no boteco do lado, destravei a porta de correr e o cheiro dos livros velhos invadiram minhas narinas. Como de sempre haviam pilhas e mais pilhas de livros na bancada do caixa, no chão e no sofá. Todos a espera de avaliação, uma limpada e achar um lugarzinho para eles naquele mundo próprio do Sebo. Joana, minha parceira do dia no trabalho chegou logo depois de mim, meio como eu ainda sonada, um pouco de mau humor, o normal para um dia de manhã cedo que parecia vagaroso como outro qualquer.
Joana assumiu o caixa, como sempre, e eu fui organizar as coisas, pois de manhã não apareciam muitos clientes, um ou outro bibliófilo, ou os malucos de costume, porque vocês sabem, sebo é para- raio de maluco! Arrumava os livros fora do lugar , coisa que era rápida e fácil de fazer, ai me sentei no sofá e comecei a botar preço nas novas aquisições do sebo. Num sebo existe o que gente chama de “lixo” , livros de grande tiragem, que quase todo mundo tem e não vale muito, e “filé” as raridades, primeiras edições e livros raros. Aquele lote estava bom demais, cheio de coisa boa, um livro me chamou atenção, “A República Imperial” de Raymond Aron, que fala como os EUA eram república internamente , e império nas relações com as outras nações. Outro exemplar peculiar passou pelas minhas mãos naquela manhã, “ As Cruzadas vistas pelos Árabes”, de Amin Malouff, eu estava na faculdade de História, e até separei esse exemplar para mim mesmo. Joana falou que ia fumar um cigarrinho lá fora, e eu falei que ficava de olho nas coisas, continuei meu trabalho tranquilamente. Estava tão absorto no trabalho que o telefone quando tocou até me assustou, o ruído estridente da sua campainha parecia ecoar pelo silêncio da loja. Levantei-me do sofá e fui atender. Ao falar a saudação comercial de sempre fui interpelado por Lisandro, sócio do sebo e meu parceiro, que ofegante gritava:
- Marcão!!! Marcão!!!! Liga a televisão, rápido liga!
Com o telefone no ouvido, fui pra salinha dos fundos do sebo , onde havia um espaço de projeção com uma tv de 29 polegadas e um dvd. Lisandro falava compulsivamente coisas que eu não entendia direito, mas liguei a Tv.
No ato sintonizou a Globo e o que parecia ser o World Trade Center pegando fogo, um tumulto só, perguntei ao Lisandro o que tava acontecendo, e ele berrava compulsivamente:
- Roma está caindo! Roma está caindo! Roma está caindo!!!!!! É um atentado terrorista em pleno solo americano!!!!!
Na hora corri até porta da loja falei para Joana o que estava acontecendo, na hora ela e algumas pessoas que passavam na rua , e ouviram o que estava havendo entraram na loja. No momento em que novamente paramos em frente a televisão vimos o segundo avião atingir a segunda torre. Lisandro tinha emudecido no telefone. Falei que ligava em instantes para ele, ai liguei para minha namorada , que trabalhava cadastrando livros em outro sebo da rede. Ao relatar o acontecido, pois na outra loja não havia tv, ela atônita contou a todos no lugar o que se passava em Nova York, mas o engraçado foi que ninguém acreditou e acharam que eu estava passando um trote. Só mais tarde quando clientes comentaram o acontecido, é que meus colegas da outra filial acreditaram no fato.
Passados Dez anos do ocorrido, e pipocando de novas imagens e relatos sobre aquele dia. Acho que devemos pensar no outro lado, num oriente que a 500 anos sofre violências por parte de ocidente, que desde o tratado Tordesilhas divide os não europeus e suas terras entre os conquistadores brancos. Pensar na África , continente mais rico do mundo, mas que a séculos sofre com exploração de seus recursos naturais, guerras civis e fome. Pensar na história de Lawrence da Arábia, na sua epopéia que narra como a península árabe se livra do domínio Turco, e até hoje serve aos interesses das empresas de petróleo. Pensar como as ditas “potencias ocidentais” tem interferido na vida de mais ou menos 2,5 bilhões de pessoas, por seus interesses mercantis.
Não quero de forma alguma justificar os atentados de 11 de setembro, tão pouco também assumir um discurso panfletário, ou, revolucionário de ocasião. Quero aqui iniciar uma reflexão sobre como os abusos da própria civilização ocidental, e suas práticas intervencionistas, levaram a esse extremo de ódio que foi o atentado as Torres Gêmeas. Porque Ozama Bin Laden, homem rico instruído na sua cultura, jogou fora sua vida e a honra da sua família nessa senda de vingança. Pois sei, como estudante da cultura islâmica, que os muçulmanos são pessoas de razão, paz e sabedoria na sua maioria. Mais do que revidar ataques, pois isso já foi feito, devemos perguntar o por quê somos atacados.

Um comentário:

Christiane disse...

Menino, aqui assistindo a cobertura das tvs Espanholas sobre o atentado, tambem me lembrei daquele dia. E da sua ligaçao pra loja do paço...anos depois, eu acordei tarde aqui em Madrid, e chegando ao lugar onde eu trabalhava á noite, encontrei a dona fechando as portas...era 11 de março de 2004 e haviam explodido um trem do metro de Madrid... Bjs