27 outubro 2008

Blog: Solidão do Escritor?

De novo me vejo as voltas com o tema mais implícito da sociedade moderna: A Solidão.
Quando nos bancos da Universidade Federal Fluminense, como já tivesse saído de lá...rs...! Bem...Whatever... Lia eu o historiador americano , mas francófilo de carteirinha, Robert Darton. Devorava com avidez sua célebre obra “Boemia Literária e Revolução”, que aborda o movimento panfletário pré-revolucionário que graçava pela Paris setecentista. Darton com maestria prova que os textos que influenciaram a Revolução Francesa não foram os escritos iluminista, e sim os panfletos que circulavam pela ruas de Paris. Revisando a tese de André Maurro em “Origens Intelectuais da Revolução Francesa”, de que filósofos como Voltaire teriam feito a cabeça dos Revolucionários. Tais intelectuais circulavam nos grandes salões do reino, não eram lidos pelo populacho. Marrat , Brissot, Robespierre e Danton eram a os panfletista, a boemia literária que nas esquinas, prostibulos e tavernas de Paris, entre uma caneca de vinho e taça de genebra pregavam a insurreição para raia miúda de Paris.
Analogia é uma arma do método dedutivo, meu treinamento como historiador não permite eu me furtar a usá-la, assim quando passeio pelos milhares de Blogs da Wide World Web( Rede mundial de computadores) é inevitável a comparação com os panfletista. A infinidade de Blogs parecem um universo em si, enquanto os panfletos estavam irmanados em uma causa. Vejo erudição sem fim solitária,ou simplesmente confinada a meia dúzia de leitores amigos. Walter Moreira Sales dirigiu um filme que conta a história de uma blogueira, escritora de blog e guerreira, que luta para sair desse publicismo anônimo que esta forma literária cibernética proporciona. Claro que existe muita porcaria no universo deste tipo de site, mas as narrativas ricas e sozinhas, boiando pela imensidão da net me chamam atenção. Penso se devia lançar um manifesto blogueiro, “Blogueiros do mundo uni-vos!”..rs... Se já não existe um assim! Também seria um problema arranjar uma causa que concatenasse toda essa energia literária numa só direção. Essa é mais uma face da solidão moderna , uma publicação anônima, um manifesto de individualidade criativa esperando sair da tela e ganhar mundo no velho papel , no velho códice incunábulo chamado livro.

20 outubro 2008

Solidão, ou, "Desenraizamento do mundo'*

Apesar do tema ser extremamente recorrente na literatura universal, e os ensaios , letras de musica, poemas e canções evocando o este sentimento e sensação humana sejam abundantes e exaustivos, me é irresistível não abordar o tema e também não expor minhas próprias divagações de botequim, minhas digreções a luz tépida de um bar sorvendo o ultimo gole de cerveja.
Dentro do espírito lúdico e alcoólico que me abate nesta segunda feira chuvosa, na verdade estou de ressaca mesmo, assim relatarei minha ultima investida boemia que inspirou tal reflexão.
Um domingo chuvoso, onde os carros empurram p/ as sarjetas a lama escura produzida pela fuligem da cidade e chuva, embora o Rio de Janeiro ser uma cidade solar, num dia como esse até a mais bela cidade toma um ar de Gottan City. Acordei com a garganta ruim quase fechando, fui buscar alivio na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) onde agora casos que não são realmente emergência são atendidos. Chegando a UPA da tijuca, a mais próxima da minha casa por incrível que pareça pois moro em Jacarepaguá, vê-se instalações modernas, limpas , cadeiras confortáveis, televisão de LCD, uma maravilha, porem nem tudo é perfeito. A seleção do atendimento é por nível de risco, assim você que ta quase sem falar por causa de uma dor de garganta espera horas porque sempre tem alguém com mais risco na sua frente, o legal é que ninguém te explica esse critério de risco. Foi isso que aconteceu comigo, tinha uma senhora que tava quase desmaiando de enxaqueca, mas tava esperando a horas pois enxaqueca não se prova ser muito arriscada a morte, apesar da dor pirar agente. Eu e ela ficamos umas três horas vendo a sala de espera encher e esvaziar , e nada de atendimento. É incrível a sala de atendimento de um pronto socorro publico, um monte de gente sofrendo, dores e faces consternadas por todos lados, enfermeiras passando de um lado p/ outro, médicos também, alguns rindo fazendo piada com os colegas e nas cadeiras as pessoas lá aguardando o maldito monitor estampar seus nomes para o atendimento. Depois de longa espera fui atendido por doutora loirinha linda de sotaque sulista, olhou a garganta e cinco minutos me receitou um antiinflamatório e me despachou. Ao sair da unidade tive uma rara visão, a Praça Sãs Penã quase deserta num tom cinza dado pela chuva, eu não estava muito afim de voltar p/ casa , assim vasculhei a agenda do celular atrás de algum amigo morador da tijuca que pode-se conversar e me ajudar a amainar minha solidão chuvosa. Achei o Mauro que também estava só em casa,mas muito mais confortável na seu próprio isolamento voluntário, como o Mauro é um grande amigo, aceitou que perturbasse sua meditação ressaquista de domingo com minhas angustias, assim me dirigi ao seu refugio na Rua Maria Amália.
Mauro com bom boêmio, já me recebeu com uma gelada esfumaçando de frio, nevada pelas gotículas de vapor d’água do ar que indicam ao bebum que a cerveja está própria para o consumo! Ele estava preparando o almoço, assim me recostei num baquinho na cozinha , onde nós historiadores de oficio, filisofos de botequim por profissão, começamos a divagar sobre temas universais. Viajamos até o século XIII, inicio do renascimento italiano, a construção da individualidade, Petrarca e a imitatio modrena, Dante e seus novos conceitos de política, e claro Maquiavel e sua milhares de interpretações através dos tempos. Abordamos um autor em especial, Jacob Buckhart e sua celebre obra “A cultura do renascimento na Itália”, e como homem moderno se diferenciava do medieval ao criar uma nova sociabilidade, construindo uma natureza que independia do grupo, do coletivo, criando um indivíduo que era suficiente em si, que dava seus primeiros passos para uma nova forma de vida só. Entre um gole outro o papo foi da erudição dos modernos, até as nossas próprias desventuras, insucessos profissionais e amorosos, já que eu acabava de terminar um relacionamento e estava procurando mesmo era um ombro amigo. Almoçamos mas o paladar ainda pedia mais algumas geladas, Mauro sugeriu um autêntico boteco tijucano localizado na praça Xavier de Britto, o Bar do Neca, pertencente ao seu Manel autentico português de Detrás Dos Montes. Lá pedimos uma Boemia gelada , excelente representante do néctar bávaro, que sorvermos com prazer alviçareiro. No fundo do bar havia uma mulher morena de olhos verdes, que apesar dos castigos do tempo exibia uma beleza resistente. Sorvia sua cerveja acompanhada de uma taça de Steinheighan (Água ardente alemã), parecia não ligar para os presentes e estava absorta em seus pensamentos. Não consegui tirar os olhos dela, e a fitava com canto dos olhos enquanto conversava com o Mauro e bebia minha cerveja. Quando ela veio ao balcão puxei papo, mas ela não deu muita atenção, e voltou para sua embriagues solitária em sua mesa. Apesar da rudeza daquela mulher continuava a beber a olhar para ela, sua postura distante, seu jeito atemporal parecendo estar inerte no século. De repente ela levantou, virou o ultimo gole de cerveja e ultima talagada na taça, veio ao balcão jogou o dinheiro para seu Manel e se dirigiu a mim:
- Lindo hoje não é dia de papo, quem sabe outro dia!
Afagou meu rosto e foi embora, me dirigi ao Mauro e disse:
- É isso Mauro! O que a nossa sociedade moderna conseguiu!
- O que cara? Perguntou Mauro intrigado.
- A Solidão veio! A Solidão é a maior conquista da Modernidade!

*O segundo título é uma contribuição inestimável do Grande Carlos Pereira Jr, o "Focault Negro"

11 outubro 2008

A Neurose do Patrão Burro

Mais um dia de trabalho numa grande livraria de um shopping carioca, a qual não vou citar o nome, pois vai que me torno um cronista e blogueiro famoso e essa crônica se torna popular, vai? Melhor evitar processos futuros. Assim também não contem com os verdadeiros nomes dos personagens, e sobrenome nem pensar! Bem, como dizia... Chegava eu para iniciar minha jornada laboratória na grande livraria a qual eu vendia minha força de trabalho, entre os cumprimentos habituais comecei a me preparar para entrar no salão e atender os clientes. Claro que antes disso sempre havia um ritual básico, guardar a mochila, trocar a roupa comum pelo uniforme, uma camisa amarelo ovo com a logomarca enorme da empresa, tomar um café , ir para o salão arrumar os livros fora de lugar e ai então atender os clientes. Já no café seu Marcus, o dono da franquia da loja, entra como um furacão na cozinha, diz:
- Vamo lá trabalhar logo que essa loja tá uma zona!
Nem deu tempo de terminar o café, claro que um estudante de história e pretenso intelectual como eu, tinha que desafiar o poder estabelecido. Terminei o café com a maior da calmas olhando a indignação apressada do meu patrão, e fui tranquilamente para o salão buscar meus a afazeres. A zona que seu Marcus falava era um livro ou outro deitado na estante fora de lugar, revista na área de leitura abertas e uma ou outra bunginganga que ele vendia no balcão pela loja. Realmente uma um tisunami tinha passado pela loja. Em cinco minutos arrumamos tudo e ficamos esperando os clientes chegarem. Claro que numa segunda-feira de manhã não havia muitas pessoas interessadas em livros naquele shopping, nem havia muita gente no shopping. Assim nos posiocinamos nas posições pré-fixadas pelo dono loja p/ recebermos os clientes, ele tinha feito um mapa da loja e ficávamos em posições onde se podia vigiar toda loja; seu Marcus tinha pavor de furto e muitas vezes vigiávamos mais os clientes do que os atendíamos. Nem uma viva alma entrava na loja naquela manhã, estávamos imóveis e mudos nas nossas posições como seu Marcus gostava, ele também tinha horror a conversa, pois tínhamos que estar atentos ao cliente, pró-ativos, rapidamente buscar o que cliente queria e passar ao atendimento de outro, se demorávamos muito tirando uma duvida do cliente ele já fazia cara feia. Nesta segunda em particular a falta de movimento na loja era mais patente do que nunca, e humor do homem piorava a cada minuto. Seu Marcus estava rodando a loja como fera enjaulada, revoltado com o marasmo do dia, foi quando parou ao meu lado e perguntou:
- O que você ta fazendo aí parado?
Respondi como muita calma, porem com uma certa expressão de espanto, pela pergunta:
- Posicionado como o senhor determinou, esperando um cliente entrar, em silencio e atento.
Este fez uma cara de contrariedade apertando os olhos achando que estava curtindo com a cara dele. E disse:
Você não tem nada p/ fazer ou arrumar?
Respondi com acara de deboche que ele tanto esperava:
- Não, já arrumamos tudo, está tudo no lugar
Ele respondeu já alterando a voz:
- Mas vocês estão todos parados, sem nada o que fazer !
Respondi com calma, mas sem alterar a expressão de ironia:
- Estamos parados e em silêncio como o senhor determinou, já cumprimos a primeira etapa do serviço arrumando a loja, e agora estamos aguardando a clientela chegar , se ela não aparece não podemos fazer nada.
A cara do homem se fechou e ira parecia tomar conta daquele corpo pequeno e franzino, vociferou:
- Então arrumem alguma coisa p/ fazer, pois pago a vocês! Pago muito bem, e cada minuto que vocês estão parados me custa dinheiro!!!!!!!!
Todos fizemos uma cara de espanto com esse descalabro proferido por nosso irritado patrão. Fitamos uns aos outros, e parece que a telepatia nos tomou a todos. Tivemos o mesmo pensamento e ação. Todos se dirigiram as seções que tomavam conta, tirando todos os livros do lugar, os botando no chão nos corredores da livraria os re-arrumando da mesma forma na estante. Contudo nesse momento já era hora do almoço e o shopping começava a ficar movimentado, as pessoas começavam a entrar na loja, e quase todos os livros estavam fora de lugar. Seu Marcus começou a se desesperar e gritou para os vendedores:
- Olha , olha! Tem cliente na loja!
Com a cara mais cínica do mundo meu colega de trabalho Eduardo respondeu ao chamado:
- Calma seu Marcus , seu dinheiro é muito importante, vamos terminar arrumação para fazer valer nosso salário. Afinal os clientes podem esperar, né?
O homem franzino, ficou meio sem o que responder, pois ele mesmo tinha criado aquela situação, foi p/ o salão ele mesmo tentar atender a clientela, mas na achava nada, pois tudo estava sendo re-arrumado como ele mesmo ordenara.