11 outubro 2008

A Neurose do Patrão Burro

Mais um dia de trabalho numa grande livraria de um shopping carioca, a qual não vou citar o nome, pois vai que me torno um cronista e blogueiro famoso e essa crônica se torna popular, vai? Melhor evitar processos futuros. Assim também não contem com os verdadeiros nomes dos personagens, e sobrenome nem pensar! Bem, como dizia... Chegava eu para iniciar minha jornada laboratória na grande livraria a qual eu vendia minha força de trabalho, entre os cumprimentos habituais comecei a me preparar para entrar no salão e atender os clientes. Claro que antes disso sempre havia um ritual básico, guardar a mochila, trocar a roupa comum pelo uniforme, uma camisa amarelo ovo com a logomarca enorme da empresa, tomar um café , ir para o salão arrumar os livros fora de lugar e ai então atender os clientes. Já no café seu Marcus, o dono da franquia da loja, entra como um furacão na cozinha, diz:
- Vamo lá trabalhar logo que essa loja tá uma zona!
Nem deu tempo de terminar o café, claro que um estudante de história e pretenso intelectual como eu, tinha que desafiar o poder estabelecido. Terminei o café com a maior da calmas olhando a indignação apressada do meu patrão, e fui tranquilamente para o salão buscar meus a afazeres. A zona que seu Marcus falava era um livro ou outro deitado na estante fora de lugar, revista na área de leitura abertas e uma ou outra bunginganga que ele vendia no balcão pela loja. Realmente uma um tisunami tinha passado pela loja. Em cinco minutos arrumamos tudo e ficamos esperando os clientes chegarem. Claro que numa segunda-feira de manhã não havia muitas pessoas interessadas em livros naquele shopping, nem havia muita gente no shopping. Assim nos posiocinamos nas posições pré-fixadas pelo dono loja p/ recebermos os clientes, ele tinha feito um mapa da loja e ficávamos em posições onde se podia vigiar toda loja; seu Marcus tinha pavor de furto e muitas vezes vigiávamos mais os clientes do que os atendíamos. Nem uma viva alma entrava na loja naquela manhã, estávamos imóveis e mudos nas nossas posições como seu Marcus gostava, ele também tinha horror a conversa, pois tínhamos que estar atentos ao cliente, pró-ativos, rapidamente buscar o que cliente queria e passar ao atendimento de outro, se demorávamos muito tirando uma duvida do cliente ele já fazia cara feia. Nesta segunda em particular a falta de movimento na loja era mais patente do que nunca, e humor do homem piorava a cada minuto. Seu Marcus estava rodando a loja como fera enjaulada, revoltado com o marasmo do dia, foi quando parou ao meu lado e perguntou:
- O que você ta fazendo aí parado?
Respondi como muita calma, porem com uma certa expressão de espanto, pela pergunta:
- Posicionado como o senhor determinou, esperando um cliente entrar, em silencio e atento.
Este fez uma cara de contrariedade apertando os olhos achando que estava curtindo com a cara dele. E disse:
Você não tem nada p/ fazer ou arrumar?
Respondi com acara de deboche que ele tanto esperava:
- Não, já arrumamos tudo, está tudo no lugar
Ele respondeu já alterando a voz:
- Mas vocês estão todos parados, sem nada o que fazer !
Respondi com calma, mas sem alterar a expressão de ironia:
- Estamos parados e em silêncio como o senhor determinou, já cumprimos a primeira etapa do serviço arrumando a loja, e agora estamos aguardando a clientela chegar , se ela não aparece não podemos fazer nada.
A cara do homem se fechou e ira parecia tomar conta daquele corpo pequeno e franzino, vociferou:
- Então arrumem alguma coisa p/ fazer, pois pago a vocês! Pago muito bem, e cada minuto que vocês estão parados me custa dinheiro!!!!!!!!
Todos fizemos uma cara de espanto com esse descalabro proferido por nosso irritado patrão. Fitamos uns aos outros, e parece que a telepatia nos tomou a todos. Tivemos o mesmo pensamento e ação. Todos se dirigiram as seções que tomavam conta, tirando todos os livros do lugar, os botando no chão nos corredores da livraria os re-arrumando da mesma forma na estante. Contudo nesse momento já era hora do almoço e o shopping começava a ficar movimentado, as pessoas começavam a entrar na loja, e quase todos os livros estavam fora de lugar. Seu Marcus começou a se desesperar e gritou para os vendedores:
- Olha , olha! Tem cliente na loja!
Com a cara mais cínica do mundo meu colega de trabalho Eduardo respondeu ao chamado:
- Calma seu Marcus , seu dinheiro é muito importante, vamos terminar arrumação para fazer valer nosso salário. Afinal os clientes podem esperar, né?
O homem franzino, ficou meio sem o que responder, pois ele mesmo tinha criado aquela situação, foi p/ o salão ele mesmo tentar atender a clientela, mas na achava nada, pois tudo estava sendo re-arrumado como ele mesmo ordenara.

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