20 dezembro 2008

Faça Um Glu-Glu Para O Livreiro

Escrever sobre minha estadia trabalhando nesse famoso sebo de Copacabana está se tornando um vício muito prazeroso! Assim mais uma vez vos trago um episódio passado neste lugar.
Bem se sabe que a vida do comércio tem seus altos e baixos, as vezes muito mais baixos! Num dia desses de chuva, em que o carioca derrete como açúcar se sair na rua, estávamos eu e Leandro, meu parceiro de turno, totalmente entediados na loja. Já tínhamos arrumado tudo, conferido as novas compras, botado preço, organizado as estantes, realmente a loja estava um brinco, só faltava o principal, o cliente. Nesse marasmo, cercado por parte significativa do saber humano, Leandro se contorcia no balcão. Ia até a vitrine da loja, olhava o dia turvo, a chuva que caia sonolenta respingando o vidro da frente. Seu olhar de desconsolo e inconformidade dava pena de se ver! Foi quando percebi um lampejo, um “brainstorm” possuindo a mente do meu parceiro, ele sentou no computador e rapidamente confeccionou o que me parecia um cartaz, correu para o fundo da loja onde havia uma sobra de um lote de vinis que não sabíamos que fazer, sacou um dos Lps e me disse:
- Cara! Vamos fazer uma promoção!
Ele mostrou o disco do Sergio Malandro, veterano apresentador de TV e humorista, no cartaz estava escrito em fonte grande:
Faça Um Glu-Glu para o Livreiro e leve Sergio malandro de Graça!!!
Na hora de uma gargalhada, pois realmente a piada era boa, “vem fazer glu-glu” era hit trash dos anos oitenta, que quem tem menos de trinta anos não deve lembrar. Eu duvidava quem alguém ia pagar esse mico para levar o disco, realmente cantar a musica, e mais, fazer o gesto do apresentador meio que cantando o Livreiro, era constrangedor demais! Leandro nem me ouvia, afirmava com veemência:
- Veio! Isso vai agitar a loja!
Naquele dia lamacento, realmente poucas pessoas entraram na loja, as poucas que entraram nem perceberam o cartaz, mas ele ficou lá em destaque. Nos dias subsequentes algumas pessoas reparavam na promoção, umas achavam estranho, outras morriam de rir, mas nem uma teve coragem de topar a brincadeira pelo Lp.
Numa segunda-feira tórrida, daquelas que até o Cristo redentor se abana, estávamos nós quase na hora de trocar o turno de trabalho no sebo, quando adentra a loja um argentino, sabíamos que era portenho pois tinha um cabelão, costeletas grandes e falava com a língua frouxa nos dentes. Na hora que o gringo viu o Lp do Sérgio Malandro foi amor a primeira vista, ele afobadamente se dirigiu a mim apontando o disco e perguntou!
- Quanto!? Quanto!?
Olhei para o Leandro e disse:
- Velhinho você inventou a promoção, agora explica para ele.
Leandro desenrrolou a língua como o gringo, num “portunhol “ de dar gosto de ver, o argentino fazias caras e bocas, fazia gestos que significavam dinheiro, estava disposto a dar o que fosse pelo Lp, mas Leandro estava irredutível queria o “ Glu-Glu! Vendo que não haveria jeito de possuir a relíquia trash sem cunprir a tarefa da promoção, sucumbiu. Pediu para gente tocar a musica, porque assim a capela não ia rolar. Obvio que botamos o Leandro sentado atrás do balcão, o argentino ia fazer o show para ele.
Assim começou a rolar na pick-up da loja “Vem fazer Glu-Glu”, o gringo rebolava, jogava beijinho, fazia o sinal do glu-glu para o Leandro atrás do balcão, a loja estava cheia, e o povo ria solto! Depois de tudo acabado, nosso dançarino de ocasião, saiu da loja feliz e contente com seu troféu de baixo do braço. Leandro ria meio constrangido ouvindo as piadas do Marcelo, um dos donos do sebo que dizia:
- Não sei se ele gostou mais do disco ou de fazer Glu- Glu para você!
Também não me furtei a completar a ironia:
- Ai Leandro! Acho que rolou um sentimento! Acho que o gringo gamou!
Leandro dava de ombros e se deleitava com a promoção cumprida, prometendo mais emoções hilárias no nosso sebo.

16 dezembro 2008

Manuel Carlos e o Reino Encantado do Leblon

Mais um dia em um famoso sebo de Copacabana. Cheguei como sempre nos pontuais 15 minutos de atraso para o expediente do dia. Meu companheiro de turno, Leandro já estava lá com o loja aberta, e os bibliófilos matutinos já estavam povoando a loja. Quilos de lixo estavam nos fundos no chão, os alfarrabistas chamam de lixo livros de Best seller , livros de banca de jornal e qualquer livro de grande tiragem, pois não tinham muito valor de revenda . Sidney Sheldon, Danielle Stills, Paulo Coelho, centenas deles estavam lá, olhei com espanto e perguntei:
- Onde estão as coisas boas que valeram esse lixo todo?
Leandro apontou uma pilha de uns 120 livros no canto da loja. Geralmente as pessoas quando vendem livros usados, vendem livros de algum parente que morreu, vendem porque querem se mudar e não querem levar peso, e querem que o sebo leve todo o lote. Nisso os livros de valor vem misturados com o lixo. Estavam lá extraídos da massa de “Sabrinas “ e “Julias”, uma coleção completa do Asimov, vários volumes do Nelson Rodrigues, sem falar em Flaubert, Guy de Maupassant e outros. Literatura assim da gosto de um Livreiro vender.
O sebo também é um lugar de discussões acaloradas sobre literatura, política , história e assuntos que tenham haver com publicações e livros. Nesse dia em especial estava lá um professor de literatura da UFRJ, Prof. Antonio Carlos, um aficionado que era cliente do sebo desde de que abriu, ia lá sempre não só para achar raridades, mas bater um papo sobre elas. Não existe nem um lugar melhor no mundo para um bom papo sobre livro e cultura do que um sebo. Leandro e o Professor debatiam sobre novelas, nosso literato segurava um volume de “Senhora” de José de Alencar, e divagava sobre o folhetins dos jornais do século XIX e como eles influenciaram a origem das telenovelas. Leandro acrescentava:
- A Novela para mim é crônica social brasileira! Falava animado com o papo. O professor também animado continuava a falar:
- É, se observarmos bem, vários clássicos da literatura nacional foram adaptados para televisão, os revitalizando e os inserindo no contexto popular, como “Gabriela” do Jorge Amado.
Tudo ia bem no nosso debate matutino, varias conexões , as novelas e crônica da cidade, Lima Barreto e Janete Clair andavam de mãos dadas nas nossas elucubrações. Até que o Professor resolveu citar o Manuel Carlos e suas novelas, como por exemplo “Por amor”, e como ele fazia a crônica da vida privada carioca. Nessa hora Leandro ficou indignado, e teceu seu comentário mordaz:
- Ah não Professor! Esse cara não dá! Manuel Carlos e Reino Encantado do Leblon, onde a madame, o segurança e a faxineira moram no mesmo bairro, e mais, compram no mesmo supermercado! Esse cara faz a crônica da ilusão carioca, isso sim!
Gargalhadas ruidosas perturbaram o clima de silencio da loja, até quem não estava no papo riu também. O Professor não conseguiu conter os risos , assentiu com a cabeça e fez um sinal de O.K.

10 dezembro 2008

Intelectual de Bolso

Hoje ! Um dia modorrento, no qual o calor faz as maiores moscas varejeiras pouparem energia, rastejando em vez de voar. Vasculho as velhas caixas empilhadas no quartinho dos fundos da casa, misturando meu suor as lembranças poeirentas de uma vida que parece curta na minha memória, mas imensa na materialidade das tralhas acumuladas.
Aquele livro do Nietzsche que nunca li, mas sempre citei pela orelha, o disco do Bruce Springsteen, todo aranhado de tanta festa, o Boquen (espada samurai de madeira) do Aikido, que tanto me ajudou a aprender a arte de não lutar, o retrato da velha namorada, amor infinito mas que não teve nada de eterno, nem durou. Estava atrás de um texto para fazer citação em um artigo, ma acabei me perdendo na memória material de uma vida que parecia ter escorrido pelos dedos como o tempo , mas agora se demonstrava ter sido ponteada por inúmeras façanhas cotidianas. Nem lembrava mais, mas ali estavam guardados todas minhas provas e trabalhos de faculdade, os dez, os oito e por aí vai... Como um caminho , todos estavam arrumados por datas e semestres concluídos. Passando meus dedos por eles, li e reli as agruras e sucessos de minha vida acadêmica, algumas coisas que acreditava, e hoje não acredito mais, idéias que não desenvolvi, e outras que viraram minhas mais fiéis certezas de bolso, todas nessa trilha retalhos que se amalgamaram no que penso e sou.
Voltei ao meu notebook para ver se terminava o meu artigo, mas a concentração já tinha ido para o espaço, na minha saudosista visita ao passado me perdi do que tinha que fazer. Assim resolvi dar uma passeada no mundo cibernético. Fui ao blog de meu dileto amigo Pereira o “Nemeton”, lá ele da vazão aos seus pensamentos e opiniões sobre nosso universo cultural e intelectual. Crônicas que vão de Metallica a Jung, uma coletânea impressionante de conhecimento em extratos que suscitam excelentes reflexões. Ele respondia a um comentário meu sobre uma crônica sua, e me aconselhava olhar as postagens anteriores para elucidar meus questionamentos. Assim o fiz. Para meu deleite e surpresa refiz o pensamento de meu amigo, nos fragmentos soltos percebi também o caminho que ele fez na sua formação. Na colcha de retalhos de nossas suposta intelectualidades sacamos de nossos bolsos de conhecimento, opiniões e reflexões sobre o que nos inquieta e fascina. No Blog, veículo silencioso, expomos tudo que queríamos que fosse lido por nossos interlocutores ausentes, tudo que um dia ficará guardado nesse empoeirado quartinho virtual.

18 novembro 2008

Wasp Out

Lá pelos idos de 1992 estava eu ainda nos bancos dos cursinhos pré-vestibulares, assistindo as aulas de Geografia do Professor Pádua. Seus trejeitos nordestinos, seu humor ferino e aula que mais parecia de política que de geografia nos prendia a atenção. Estávamos estudando os EUA e a formação dos mercados comuns continentais, Merco sul, NAFTA e o Mercado Comum Europeu, hoje a União Européia. Pádua citava outro grande professor, Ricardo Libório ( O “Capitão Caverna” por causa de seus cabelos e barba grande), e suas contribuições vestibulares ao estudo da “Geoestratégia”. Naquele tempo a Primeira Guerra do Golfo preocupava nosso grande professor de geografia, esbravejava ele como a guerra e sua mobilização manipulava a economia mundial. Dizia que implicações do conflito causaram até o adiamento da união econômica dos países europeus. Na época Gorge Bush, o pai, tentava a reeleição frente ao candidato democrata Bill Clinton. Fazíamos as considerações de sempre, sobre o quê poderia ser melhor para a América Latina, um candidato republicano, ou democrata, mas chegamos a conclusão que não mudava muita coisa na verdade, pois os dois candidatos, adespeito das suas posições políticas, não deixavam de ser americanos. Quando um aluno perguntou :
- E se Jesse Jackson( reverendo negro candidato independente) ganhasse?
Pádua deu uma gargalhada, olhou com olhar terno, mas debochado para o aluno perguntador e respondeu:
Meu Filho! Nos EUA só ganharam, e só ganham as eleições candidatos que forem W.A.S.P.
Fora o grupo de Havy Metal de mesmo nome, não sabia a origem da sigla, permaneci em silencio como todos , olhando para a cara de sabichão que Pádua fazia enquanto deixava suspense silencioso rolar no ar. Então quebrou o silêncio falando alto e escrevendo a sigla no quadro, puxou setinhas para exemplificar seu significado, e disse:
- Meus filhos! W.A.S.P! White, Angle-saxon & Protestant! Branco, Anglo-saxão, e Protestante! A matriz da elite americana, só candidatos com esse perfil foram presidentes, e sinceramente o Reverendo Jesse Jackson não tem chance alguma. Só pode fazer um pouco de barulho resgatando a memória do Martin Luther King.
Ficamos pasmos com a observação de nosso mestre, mas fomos forçados a concordar com ele frente aos fatos históricos.
No ultimo 4 de Novembro acompanhei a eleição de Barak Obama e pensei, presidente negro, filho de imigrantes, sendo ameaçado de morte, só falta o Jack Bauer nessa história! (personagem de Kiffie Surterland no seriado 24hs) Contudo uma imagem me marcou demais, e creio que marcou todos. Quando da confirmação da eleição de Obama, a TV focou a multidão, e lá estava aos prantos o Reverendo Jesse Jackson. O que era quase uma piada a 16 anos atrás, agora é uma realidade, a eleição do primeiro presidente negro dos EUA. Não sei o que está pensando o Professor Pádua disso tudo, mas de certo eu e ele estamos vendo uma mudança substancial no ethos americano, não sei se para melhor, ou, para pior, pois Obama ainda é americano. Creio que a “Republica Imperial”, segundo Raymond Aron, está em mutação. Comparado com o maior império do ocidente , o Romano, este quando começou a se miscigenar com os povos bárbaros ao seu redor, e os generais de origem bárbara começaram a se tornar imperadores; este entrou em seu declínio. Será que a eleição de Obama marca o começo da fragmentação do poder americano? Realmente é presunção querer responder essa pergunta, mas não custa ficar de orelha em pé , e olhos abertos.

27 outubro 2008

Blog: Solidão do Escritor?

De novo me vejo as voltas com o tema mais implícito da sociedade moderna: A Solidão.
Quando nos bancos da Universidade Federal Fluminense, como já tivesse saído de lá...rs...! Bem...Whatever... Lia eu o historiador americano , mas francófilo de carteirinha, Robert Darton. Devorava com avidez sua célebre obra “Boemia Literária e Revolução”, que aborda o movimento panfletário pré-revolucionário que graçava pela Paris setecentista. Darton com maestria prova que os textos que influenciaram a Revolução Francesa não foram os escritos iluminista, e sim os panfletos que circulavam pela ruas de Paris. Revisando a tese de André Maurro em “Origens Intelectuais da Revolução Francesa”, de que filósofos como Voltaire teriam feito a cabeça dos Revolucionários. Tais intelectuais circulavam nos grandes salões do reino, não eram lidos pelo populacho. Marrat , Brissot, Robespierre e Danton eram a os panfletista, a boemia literária que nas esquinas, prostibulos e tavernas de Paris, entre uma caneca de vinho e taça de genebra pregavam a insurreição para raia miúda de Paris.
Analogia é uma arma do método dedutivo, meu treinamento como historiador não permite eu me furtar a usá-la, assim quando passeio pelos milhares de Blogs da Wide World Web( Rede mundial de computadores) é inevitável a comparação com os panfletista. A infinidade de Blogs parecem um universo em si, enquanto os panfletos estavam irmanados em uma causa. Vejo erudição sem fim solitária,ou simplesmente confinada a meia dúzia de leitores amigos. Walter Moreira Sales dirigiu um filme que conta a história de uma blogueira, escritora de blog e guerreira, que luta para sair desse publicismo anônimo que esta forma literária cibernética proporciona. Claro que existe muita porcaria no universo deste tipo de site, mas as narrativas ricas e sozinhas, boiando pela imensidão da net me chamam atenção. Penso se devia lançar um manifesto blogueiro, “Blogueiros do mundo uni-vos!”..rs... Se já não existe um assim! Também seria um problema arranjar uma causa que concatenasse toda essa energia literária numa só direção. Essa é mais uma face da solidão moderna , uma publicação anônima, um manifesto de individualidade criativa esperando sair da tela e ganhar mundo no velho papel , no velho códice incunábulo chamado livro.

20 outubro 2008

Solidão, ou, "Desenraizamento do mundo'*

Apesar do tema ser extremamente recorrente na literatura universal, e os ensaios , letras de musica, poemas e canções evocando o este sentimento e sensação humana sejam abundantes e exaustivos, me é irresistível não abordar o tema e também não expor minhas próprias divagações de botequim, minhas digreções a luz tépida de um bar sorvendo o ultimo gole de cerveja.
Dentro do espírito lúdico e alcoólico que me abate nesta segunda feira chuvosa, na verdade estou de ressaca mesmo, assim relatarei minha ultima investida boemia que inspirou tal reflexão.
Um domingo chuvoso, onde os carros empurram p/ as sarjetas a lama escura produzida pela fuligem da cidade e chuva, embora o Rio de Janeiro ser uma cidade solar, num dia como esse até a mais bela cidade toma um ar de Gottan City. Acordei com a garganta ruim quase fechando, fui buscar alivio na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) onde agora casos que não são realmente emergência são atendidos. Chegando a UPA da tijuca, a mais próxima da minha casa por incrível que pareça pois moro em Jacarepaguá, vê-se instalações modernas, limpas , cadeiras confortáveis, televisão de LCD, uma maravilha, porem nem tudo é perfeito. A seleção do atendimento é por nível de risco, assim você que ta quase sem falar por causa de uma dor de garganta espera horas porque sempre tem alguém com mais risco na sua frente, o legal é que ninguém te explica esse critério de risco. Foi isso que aconteceu comigo, tinha uma senhora que tava quase desmaiando de enxaqueca, mas tava esperando a horas pois enxaqueca não se prova ser muito arriscada a morte, apesar da dor pirar agente. Eu e ela ficamos umas três horas vendo a sala de espera encher e esvaziar , e nada de atendimento. É incrível a sala de atendimento de um pronto socorro publico, um monte de gente sofrendo, dores e faces consternadas por todos lados, enfermeiras passando de um lado p/ outro, médicos também, alguns rindo fazendo piada com os colegas e nas cadeiras as pessoas lá aguardando o maldito monitor estampar seus nomes para o atendimento. Depois de longa espera fui atendido por doutora loirinha linda de sotaque sulista, olhou a garganta e cinco minutos me receitou um antiinflamatório e me despachou. Ao sair da unidade tive uma rara visão, a Praça Sãs Penã quase deserta num tom cinza dado pela chuva, eu não estava muito afim de voltar p/ casa , assim vasculhei a agenda do celular atrás de algum amigo morador da tijuca que pode-se conversar e me ajudar a amainar minha solidão chuvosa. Achei o Mauro que também estava só em casa,mas muito mais confortável na seu próprio isolamento voluntário, como o Mauro é um grande amigo, aceitou que perturbasse sua meditação ressaquista de domingo com minhas angustias, assim me dirigi ao seu refugio na Rua Maria Amália.
Mauro com bom boêmio, já me recebeu com uma gelada esfumaçando de frio, nevada pelas gotículas de vapor d’água do ar que indicam ao bebum que a cerveja está própria para o consumo! Ele estava preparando o almoço, assim me recostei num baquinho na cozinha , onde nós historiadores de oficio, filisofos de botequim por profissão, começamos a divagar sobre temas universais. Viajamos até o século XIII, inicio do renascimento italiano, a construção da individualidade, Petrarca e a imitatio modrena, Dante e seus novos conceitos de política, e claro Maquiavel e sua milhares de interpretações através dos tempos. Abordamos um autor em especial, Jacob Buckhart e sua celebre obra “A cultura do renascimento na Itália”, e como homem moderno se diferenciava do medieval ao criar uma nova sociabilidade, construindo uma natureza que independia do grupo, do coletivo, criando um indivíduo que era suficiente em si, que dava seus primeiros passos para uma nova forma de vida só. Entre um gole outro o papo foi da erudição dos modernos, até as nossas próprias desventuras, insucessos profissionais e amorosos, já que eu acabava de terminar um relacionamento e estava procurando mesmo era um ombro amigo. Almoçamos mas o paladar ainda pedia mais algumas geladas, Mauro sugeriu um autêntico boteco tijucano localizado na praça Xavier de Britto, o Bar do Neca, pertencente ao seu Manel autentico português de Detrás Dos Montes. Lá pedimos uma Boemia gelada , excelente representante do néctar bávaro, que sorvermos com prazer alviçareiro. No fundo do bar havia uma mulher morena de olhos verdes, que apesar dos castigos do tempo exibia uma beleza resistente. Sorvia sua cerveja acompanhada de uma taça de Steinheighan (Água ardente alemã), parecia não ligar para os presentes e estava absorta em seus pensamentos. Não consegui tirar os olhos dela, e a fitava com canto dos olhos enquanto conversava com o Mauro e bebia minha cerveja. Quando ela veio ao balcão puxei papo, mas ela não deu muita atenção, e voltou para sua embriagues solitária em sua mesa. Apesar da rudeza daquela mulher continuava a beber a olhar para ela, sua postura distante, seu jeito atemporal parecendo estar inerte no século. De repente ela levantou, virou o ultimo gole de cerveja e ultima talagada na taça, veio ao balcão jogou o dinheiro para seu Manel e se dirigiu a mim:
- Lindo hoje não é dia de papo, quem sabe outro dia!
Afagou meu rosto e foi embora, me dirigi ao Mauro e disse:
- É isso Mauro! O que a nossa sociedade moderna conseguiu!
- O que cara? Perguntou Mauro intrigado.
- A Solidão veio! A Solidão é a maior conquista da Modernidade!

*O segundo título é uma contribuição inestimável do Grande Carlos Pereira Jr, o "Focault Negro"

11 outubro 2008

A Neurose do Patrão Burro

Mais um dia de trabalho numa grande livraria de um shopping carioca, a qual não vou citar o nome, pois vai que me torno um cronista e blogueiro famoso e essa crônica se torna popular, vai? Melhor evitar processos futuros. Assim também não contem com os verdadeiros nomes dos personagens, e sobrenome nem pensar! Bem, como dizia... Chegava eu para iniciar minha jornada laboratória na grande livraria a qual eu vendia minha força de trabalho, entre os cumprimentos habituais comecei a me preparar para entrar no salão e atender os clientes. Claro que antes disso sempre havia um ritual básico, guardar a mochila, trocar a roupa comum pelo uniforme, uma camisa amarelo ovo com a logomarca enorme da empresa, tomar um café , ir para o salão arrumar os livros fora de lugar e ai então atender os clientes. Já no café seu Marcus, o dono da franquia da loja, entra como um furacão na cozinha, diz:
- Vamo lá trabalhar logo que essa loja tá uma zona!
Nem deu tempo de terminar o café, claro que um estudante de história e pretenso intelectual como eu, tinha que desafiar o poder estabelecido. Terminei o café com a maior da calmas olhando a indignação apressada do meu patrão, e fui tranquilamente para o salão buscar meus a afazeres. A zona que seu Marcus falava era um livro ou outro deitado na estante fora de lugar, revista na área de leitura abertas e uma ou outra bunginganga que ele vendia no balcão pela loja. Realmente uma um tisunami tinha passado pela loja. Em cinco minutos arrumamos tudo e ficamos esperando os clientes chegarem. Claro que numa segunda-feira de manhã não havia muitas pessoas interessadas em livros naquele shopping, nem havia muita gente no shopping. Assim nos posiocinamos nas posições pré-fixadas pelo dono loja p/ recebermos os clientes, ele tinha feito um mapa da loja e ficávamos em posições onde se podia vigiar toda loja; seu Marcus tinha pavor de furto e muitas vezes vigiávamos mais os clientes do que os atendíamos. Nem uma viva alma entrava na loja naquela manhã, estávamos imóveis e mudos nas nossas posições como seu Marcus gostava, ele também tinha horror a conversa, pois tínhamos que estar atentos ao cliente, pró-ativos, rapidamente buscar o que cliente queria e passar ao atendimento de outro, se demorávamos muito tirando uma duvida do cliente ele já fazia cara feia. Nesta segunda em particular a falta de movimento na loja era mais patente do que nunca, e humor do homem piorava a cada minuto. Seu Marcus estava rodando a loja como fera enjaulada, revoltado com o marasmo do dia, foi quando parou ao meu lado e perguntou:
- O que você ta fazendo aí parado?
Respondi como muita calma, porem com uma certa expressão de espanto, pela pergunta:
- Posicionado como o senhor determinou, esperando um cliente entrar, em silencio e atento.
Este fez uma cara de contrariedade apertando os olhos achando que estava curtindo com a cara dele. E disse:
Você não tem nada p/ fazer ou arrumar?
Respondi com acara de deboche que ele tanto esperava:
- Não, já arrumamos tudo, está tudo no lugar
Ele respondeu já alterando a voz:
- Mas vocês estão todos parados, sem nada o que fazer !
Respondi com calma, mas sem alterar a expressão de ironia:
- Estamos parados e em silêncio como o senhor determinou, já cumprimos a primeira etapa do serviço arrumando a loja, e agora estamos aguardando a clientela chegar , se ela não aparece não podemos fazer nada.
A cara do homem se fechou e ira parecia tomar conta daquele corpo pequeno e franzino, vociferou:
- Então arrumem alguma coisa p/ fazer, pois pago a vocês! Pago muito bem, e cada minuto que vocês estão parados me custa dinheiro!!!!!!!!
Todos fizemos uma cara de espanto com esse descalabro proferido por nosso irritado patrão. Fitamos uns aos outros, e parece que a telepatia nos tomou a todos. Tivemos o mesmo pensamento e ação. Todos se dirigiram as seções que tomavam conta, tirando todos os livros do lugar, os botando no chão nos corredores da livraria os re-arrumando da mesma forma na estante. Contudo nesse momento já era hora do almoço e o shopping começava a ficar movimentado, as pessoas começavam a entrar na loja, e quase todos os livros estavam fora de lugar. Seu Marcus começou a se desesperar e gritou para os vendedores:
- Olha , olha! Tem cliente na loja!
Com a cara mais cínica do mundo meu colega de trabalho Eduardo respondeu ao chamado:
- Calma seu Marcus , seu dinheiro é muito importante, vamos terminar arrumação para fazer valer nosso salário. Afinal os clientes podem esperar, né?
O homem franzino, ficou meio sem o que responder, pois ele mesmo tinha criado aquela situação, foi p/ o salão ele mesmo tentar atender a clientela, mas na achava nada, pois tudo estava sendo re-arrumado como ele mesmo ordenara.

11 setembro 2008

Alguma Coisa Sempre se Aproveita!

Meditando sobre as frases edificantes, impactantes, mirabolantes e até mesmo hilariantes do cinema, abusando bem dos advérbios de intensidade, sempre a uma frase que presta mesmo nos filmes mais idiotas do universo pelicular.
Vendo Rambo II, filme altamente execrado por causa das atuações pífias de seu ator principal Silvéster Stallone, que sofreu uma paralisia parcial da face e mesmo assim continuou atuando. Bem a célebre frase é proferida quando o personagem John Rambo está subindo o Rio Mekong, quando sua guia pergunta porque o mandaram naquela missão, ele responde:

- Sou dispensável
- O que é dispensável? (Pergunta a guia)
- É quando alguém te chama para uma festa, e por caso você não aparece, mas ninguém percebe sua falta.

Na verdade são varias frases, um pequeno diálogo, mas pode-se extrair alguma reflexão saída desse roteiro confeccionado por Stallone.
Na linha do cinema Tenager(adolescente), que foi iniciado pela aclamado filme “Frerris Bueller Day Off”(Curtindo a vida Adoidado), há um filme estrelado por Patrick Dampsey e Kelly Slater, que se não me enganado em Português o Titulo é “Alguém muito Especial”. Conta a história de dois jovens no college(etapa da universidade nos EUA) de letras que se apaixonam perdidamente, ela doidivanas e ele um CDF mauricinho metido a intelectual. A Frase desse filme surge quando estão todos reunidos num pub próximo ao campus da universidade e o professor de redação lê um trecho de “Oliver Twist” de Charles Dickens e se dirige aos presentes num desabafo:

- Posso ensinar a vocês estrutura, forma, estilo.... Mas diabos! Não posso ensinar vocês a escrever!

Para não falar, também, no aclamado “Back to the Future”( De Volta Para o Futuro) , que em sua primeira parte tem um impagável dialogo entre dois primos ao telefone, enquanto Michael Jay Fox antecipa o maravilhoso rock “Jonny Be Good”! Claro que a tradução matou a piada assim vou reproduzir o diálogo em inglês:

- Cousin Chuck! This is cousin Berry, Marvin Berry! Are you remember the new sound that you looking for? Listen that!

Apontando o telefone para o palco enquanto Marti, o personagem principal do filme arrasa no solo de guitarra.
Poderia ficar citando mais uma dezena de filmes que parecem aparetemente fúteis, ou meramente de enterterimento, tipo assim sessão da tarde, mas contem alguma coisa que presta, alguma sabedoria a se retirar dessas películas aparentimente bobinhas.

27 julho 2008

Crônica 12: Porque Dizer Eu Te Amo

Na verdade não existe muita razão para o enaltecimento dessa sentença, dessa declaração que na língua portuguesa parece tão musical, e o é!
Por falar em musica, essa arte da poesia em movimento, usou e abusou do direito de dizer “eu te amo”, nas linhas e entrelinhas, até quando os lábios do cantor não proferiam as três palavrinhas, a melodia as dizia em notas magistrais. Sem falar nas pinturas, que desde de paisagens marinhas, as representações de parques, pode-se ver sempre um espaço para o casal de namorados que exercitam em seus beijos as três palavrinhas.
Pensando nas motivações que nos levam a dizer tal frase a uma pessoa, me apego as reflexões de Rolland Barthes, que no seu magistral livro “Fragmentos do discurso amoroso”, não analisa o amor e sim seu discurso, visto a impossibilidade de dar conta de tal sentimento nas formas tradicionais do pensamento filosófico ocidental. Assim, lanço mão de seu conceito de “Desrealidade”, onde os amantes vivem uma realidade quase paralela, um mundo particular dos enamorados, onde os sentidos e usos dos símbolos são próprios dos amantes, sua linguagem é particular . As três palavrinhas são assim o fio condutor do sentimento único que sedimenta as ações no mundo real, dize-las solidifica a união , mesmo que você as diga de longe , no celular ou no messenger da internet.
Afora as explicações filosóficas, há quem se recuse a dizer essa frase, por medo, ou, zelo excessivo, guarda a sete chaves para um momento especial, apesar de não se saber ao certo qual é ele, qual a hora culminante, qual o clímax onde ela deve ser proferida. Sinceramente nunca soube a hora precisa de dize-la, as pessoas que as guardam demais a desperdiçam por justamente preza-la demais e não dize-la quando tem vontade.
Se pensarmos nos poetas, nunca houve na língua portuguesa um como Vinicius de Moraes, que dizia a três letrinhas como quem pedia pão na padaria, mas sem perder a força dessa locução, sem perder a magia dos olhos da amada ao receber tal afago vocabular. Versou o amar e ação desse amor como ninguém e disse “Eu te amo” nos salões e nos botecos encantando mesmo quem nunca tinha ouvido isso de alguém, acalentando o coração.
Razão e sentimento se confrontam na hora de professar o amor através das palavras mais ditas nas canções, poemas e filmes. Trazendo-a para nossa vida cotidiana é bom dize-las quando elas saltarem na boca junto com o coração, dize-las quando nem um temor restar e só a emoção fluir nas faces, dize-las simplesmente por que se tem vontade!

Marcos Khanm

26 julho 2008

Crônica 7: O Apito

São 8:00 horas! Hora de levantar! São 8:00 horas! Hora de levantar! São 8:00 horas! Hora de levantar!!!!!!!! Assim sentencia o despertador falante do meu telefone celular. Em tempos passados o toque do apito da fábrica ditava o ritimo das horas, já foram as badaladas do sino da igreja nos tempos medievais.
No mundo moderno uma infinidade de barulhinhos nos alertam, avisam e disciplinam, nos guiando por mundo traduzido em sons artificiais. O velho Trim... Trim... do telefone foi substituído por infinidade de toques difusos , que ora podem ser musicas , frases de efeitos ou outros sons abissais, que alegram os jovens e deixam intrigados os mais velhos.
Hoje em dia temos que discernir entre vários chamados sonoros, selecionado automaticamente a resposta certa ao estimulo, as vezes me parece que vivemos um sonho de Pavilov ( descobridor do reflexo condicionado), em um mundo de sons e ações pré-programadas.
Ontem fui a um parque , vi um homem com seu cachorro brincando animadamente, o cão explorava o terreno animadamente. Em um momento o dono do cão soprou um apito, o qual o som não ouvi, o cachorro prontamente obedeceu ao chamado inaudível para mim, e seguiu com seu dono. Aí me pergunto: Qual a diferença de nós para o cão? Quantos apitos invisíveis, e inaudíveis nos obedecemos?

23 julho 2008

"O Velho Torto"

Taplac... klac.... Taplac... Blum, blum blum....
Ruidosamente se abria a porta metálica do sebo, alguns viciados literários já me esperavam na porta , ávidos por novidades e raridades, apesar de ser um sábado de sol em plena e ensolarada Copacabana, parecia que aquelas criaturas pálidas respiravam o ar da Londres de Lorde Byron. Sabe... Sebo é para-raio de maluco, no sábado como aquele, eles batiam ponto na loja. Deixei os tarados bibliófilos a vontade e fui ligar o computador e abrir o caixa da loja. Nessa instante entra na loja meu companheiro de trabalho, Leandro, com uma cara de ressaca e sorvendo um café de boteco fumegante. Eu também estava meio com dor de cabeça pela noitada do dia anterior, por isso mesmo nem tinha ligado o som. Leandro mesmo com ar nauseabundo causado pela réstia de caraspana( também conhecido como rebordosa, feedback de ressaca), fuçou o pilha de disco que tinha chegado na noite anterior , quando seu rosto se iluminou ao vislumbrar um Lp, eu temeroso, pois o gosto musical do meu amigo era meio duvidoso, perguntei:
- What porra is that? ( Que porra é essa para os íntimos)
Ele não falou nada, deu um sorrisinho de canto, ligou a vitrola. Cara... Já sabia que vinha bomba, mas não sabia qual era, num instante ouvi uma introdução musical adocicada e uma voz fininha cantando:
- Voar, voar!
- Subir, subir!
Era Biafra a cotovia de Niterói! Nada contra quem gosta dele, mas para um amante do Rock’n’roll como eu, e de ressaca, aquilo era quase como um murro auditivo. Na hora vociferei:
- Tira esse negocio, se não nossa amizade vai ficar muito abalada!
Nessa mesma hora, adentrou a loja o personagem central dessa história, “O Veio Torto”! Um senhor dos seus cinqüenta anos, que tinha uma deformidade nas costas que não o deixava ficar hereto. Sempre vinha acompanhado de um garotão moreno em trajes de ir a praia. Perguntava sempre pelo mesmo livro numa voz gutural, com sotaque nordestino, que parecia vir das profundezas:
- O senhor tem aí Menino de engenho de José Lins do rego?
Separávamos todos os exemplares que comprávamos para ele, mas se o livro não estivesse em bom estado ele logo reclamava:
- Esse livro ta muito arrombadinho, muito aberto, não gosto de coisa arrombada, gosto de coisa apertadinha, fechadinha!
Assim os exemplares muito danificados ele não levava. Nesse dia não tínhamos nem um exemplar do seu livro predileto. Ele rodou toda a loja e parou na seção de revistas eróticas, virou a cabeça para olhar para alto mirando uma revista em especial, assim pediu a ajuda de meu parceiro de trabalho:
- Leandro meu filho, me alcance aquela revista ali?
Leandro prontamente foi lhe ajudar, perguntando:
- Que revista o senhor quer?
O velho deu um sorrisinho e respondeu:
- Aquela G Magazine ali meu filho.
Leandro pegou a revista com certo estranhamento, mas o cliente sempre tem razão, e disse:
- Sabe, isso é para meu sobrinho, aquele que vem sempre comigo de shortinho, mas eu não gosto disso muito não.
Leandro assentiu com cabeça meio constrangido, voltou a seus afazeres.
O Velho se dirigiu ao caixa, pagou a revista e disse:
- Sou fã de José Lins do Rego, sempre que tiver eu compro, mas se aparecer mas dessa revista guarde para mim, quer dizer, para meu sobrinho.
A vida de sebo é de causos e contos o veio torto deve ainda andar pelas ruas de Copacabana atrás de José Lins do Rego, ou talves, atrás do Rego de José Lins.

Marcos Bezerra, ou como preferirem, Marcos khanm

15 junho 2008

Crônica 8: Segunda

Estou bem ciente da infinidade de contos e crônicas inspirado nesse diazinho miserável, mas é inevitável, quase um rito de passagem, todo o bom cronista tem um escrito sobre este dia; eu não podia ser diferente. Assim discorrerei sobre o dia mais odiado do mundo, desde de que os ingleses normatizaram a semana, é foram eles ! Com o advento da semana inglesa, para evitar o super-produção das manufaturas. A segunda feira existia antes disso, mas com a semana inglesa ela tomou o peso que tem hoje em dia, pois nos tempos medievais o tempo tinha outra formatação, a sensação do seu devir era bem diferente, não tínhamos, por exemplo, esses milhares de apitos para nos lembrar do tempo; cujo o primeiro foi o da fábrica, no maximo o tranqüilo e bucólico badalar do sino da igreja.
Segunda é um dia quase místico! Dedicado a toda sorte de promessas, como os milhares de regimes alimentares que começaram no café da manhã e terminaram no jantar deste mesmo dia, como as academias que acolheram os atletas na alvorada, mas que a terça feira nunca mais viu, como os bebuns que acordaram de ressaca jurando nunca mias beber , e a curaram no mesmo dia bebendo no happy hour . Se juntássemos um dólar por cada promessa de segunda feita no mundo, acho que pobreza mundial já teria sido solucionada!
E quando o pagamento chega na segunda, que alegria! Mas esta só dura até a hora do almoço, pois você tem que dedicar esse sagrado tempo indo ao banco pagar as contas do mês, não da tempo nem de o dinheiro esquentar no bolso. Sem falar no montão de trabalho que você não fez na sexta, querendo sair cedo, e segunda ta todo empilhado na sua mesa.
Mas não tem jeito, de segunda em segunda-feira vai se levando a vida , hoje saltei da cama cedo, fiz a barba, tomei uma ducha fria e me armei com as armas do trabalhador – bom humor e fé – e sai de casa calçado com meu tênis surrado, andando pelos caminhos da labuta.

10 junho 2008

Crônica 9: No Trensurb

Peguei o trem metropolitano de Porto alegre naquela manhã gélida, meu destino São Leopoldo, mais precisamente o congresso de História que se reliazava no campus da Unisinos. Ao contrario do que pensavam os cariocas meus conterrâneos, o povo gaúcho tinha toda brasilidade comum aos outros rincões do país, Porto Alegre era tão mestiça como qualquer capital desse Brasil; lembro do meu amigo Cláudio reclamando: - Onde estão as loiras! Adriano, gaúcho nativo, respondia enfaticamente: - Estão misturadas a multidão, como em qualquer lugar! Aqui é longe mas ainda é Brasil! Gargalhadas ecoavam no trem. Sentado a minha frente um senhor de cabelos grisalhos, vestia botas nativas, mas o casaco era esporte e o rosto se escondia parcialmente no cachecol, ele bem podia ser o avô de alguém. Então as perguntas vieram a minha mente, será que ele era dali? Será que ele já tinha andado o mundo? Será que escolheu viver ali, ou somente terminou ali? Depois de tantas indagações percebi que todas essas perguntas não eram, na verdade, endereçadas a ele, mas a mim mesmo. Depois de vagar por aí, viajando, voltando, trabalhando e viajando de novo, pergunto ao oráculo de Keruac, ao viajante por excelência, Sal Paradise. Abri o “On The Road”, como se fosse com o “I Ching”, mas este não responde por parábolas. Única coisa que ele te mostra é estrada, um trago, um beijo e mais estrada. As respostas são conclusões das entrelinhas, cada um formula as suas. Por enquanto continuo na estrada, no momento chegando em São Leopoldo.

03 junho 2008

Cruzando Capricórnio

Bem... Era mais uma manhã modorrenta de Março na Universidade Federal Fluminense em Niterói, Rio de Janeiro. O calor e o bafo quente da Baía de Guanabara, que sopravam no Campus do Gragoáta, me lembravam porque Estácio de Sá fez o Rio de Janeiro do outro lado da Baia.
Gabriel vinha caminhando de um Bloco a outro do campus com um jovem alto e moreno a tira-colo, este usava um ralo cavanhaque ao estilo tártaro, só no queixo. Gesticulava e falava pelos cutovelos, logo descobri sua procedência depois de uma série de expressões idiomáticas do tipo: Ô,Ô,Ô! Sô! O jovem em questão era de Minas. Gabriel me apresentou o jovem e falante Marcelo, recém-mestrando que prentendia desvendar os segredos do “Papiro de Ani” e os mistérios do Livro dos mortos egipício. Conversávamos animadamente sobre os buchichos acadêmicos, e estes eram muitos, e Gabriel era nossa maior fonte de informação, se alguma coisa acontecia naquela faculdade de certo nosso Gabriel saberia. Assim nos encaminhamos para os pilotis do Bloco N, o da história. Ah! esqueci de dizer, todos nós estudávamos história, uns na graduação, outros já na pos-graduação. Sentado nos bancos de cimento nos pilotis do bloco N estava uma figura circunspecta, que observou nossa chagada por cima dos óculos caídos no nariz. Gabriel me apresentou “o gaúcho”, não o da obra de José de Alencar, mas Adriano, jovem estudante interessado nos homens bons da câmara de Porto Alegre, que estava sendo orientado pelas melhores pernas da história, digo, professora de história colonial. Decidimos tomar um café no MacUff , cantina do campus, mas mais que de repente cruza nosso caminho a bela e jovem Priscila, estudante de história medieval, que balançava suas douradas madeixas ao sabor do vento hipnotizando nosso olhar, principalmente nosso amigo mineiro. Este se lançou em elogios e afagos a bela manceba que sorria timidamente, mas sem rechaçar nem uma das investidas de nosso amigo falador dos “uais”. Assim segurava-lhe as mãos a moda do século passado as acariciando com olhar de “lobo mal”. Nessa hora não resisti, cutuquei o gaúcho , e soltei a pérola: Tentaculoso esse rapaz, não? Adriano deu uma gargalhada e todo aquele climão foi por água a baixo! Priscila percebeu nosso veneninho, e rapidamente se evadiu na direção do Bloco N, o mineiro desconsolado pela investida satirisada por nós disse: Ô,Ô,Ô! Sô! Depois dessa café é o cacete, vamos tomar uma cerrrrrrrrveja!
Assim meus caros leitores começa a amizade de três companheiros de armas, as armas do conhecimento e da história, que cruzando este trópico de capricórnio vão desvendando os mistérios de um país que é muito maior que o sudeste, mas que pode se encontrar, e se encontra num pátio de faculdade, num café e principalmente numa mesa de bar!

Crônica 10: Paulicéia Mon Amour!

Sinif...Snif... Acthin... Atchin... Funga, espirra, espirra e funga. Inverno na Vila de Piratininga de São Paulo, para um nariz carioca a corisa é o presente atmosférico da metrópole jesuítica. Agruras a parte, é preciso se misturar a multidão, conter o chiado do “s”, disfarçar-se dos olhares curiosos e passar desapercebido; coisa que não é difícil aqui, pois esta cidade abriga os tipos mais facetados, diversos numa unidade laboriosa e febril! Busco um itinerário no metrô, estação da luz, luz à palavra , luz do museu da palavra. Chegando a prestigiosa estação construída em estilo inglês, logo de saída me deparo com a Pinacoteca de São Paulo e o Parque da luz, mas esta é outra aventura cultural, agora estou sedento pelo verbo lusitano que se transmuta em museu vivo da palavra! Na bilheteria a primeira constatação capitalista, cultura não é de graça, e custa caro, muitas pessoas deixariam de pagar a entrada para tomar mais um chope ou pagar um cachorro quente; mas estou sedento de viver celebral, de mais a mais, menos um chope vai fazer bem a minha silhueta. Na reformada estação da luz o museu ocupa um espaço magistral, combina espaço sóbrios com luz baixa e agradável aos olhos. Vamos direto para o terceiro andar, assistir a uma projeção sobre o desenvolvimento da língua através dos tempos. Uma narração soberba de Fernanda Montenegro, e em menos de dez minutos vamos do Neolítico ao Rap (Rithimy & Poetry) de rua, quando menos se espera, somos convidados a passar a praça da palavra, onde a poesia luso-brasileira trafega no chão e nas paredes da sala em projeções; as vozes em declamação de artistas e mestres da poesia nos acalentam os ouvidos num espetáculo sinestésico. Sai de lá com um punhado de poemas e belas palavras, como se fossem bolinhas de gude com as quais iria brincar! Passamos ao segundo andar, onde painéis eletrônicos interativos contavam, qual escritores de cordel a aventura popular brasileira através da palavra morta e viva. Um painel gigante na lateral atravessava a sala com a velha linha do tempo da língua e da palavra, pois as pessoas até hoje pensam linearrmente, mas a palavra da voltas e reviravoltas, reinventando tempo, cultura, cotidiano e espaço. Talvez os velhos indianos tenham mais noção disso do que nós. No primeiro andar uma homenagem a uma velha artífice da palavra, Clarice Linspector, com sua elegância e rebeldia, figurava em imagem e grafia estampada nas paredes sedentas de emoções. Trafegava embriagado pela sala das gavetas, gavetas do chão ao teto, onde se depositaram pequenos relicários do viver da escritora, objetos de seu cotidiano, que traziam ainda o vigor e a energia de sua palavra! Após essa banho de descarrego cultural, que lava a alma embrutecida pela rotina, a necessidade básica da vida nos acometia, fome! Nos dirigimos ao Bexiga, atrás da memória e do paladar da Itália. Bem... Alcançamos a rua 13 De Maio, subindo seu breve aclive, atrás de uma bela tratoria para saciar nosso desejo de uma Nápoles da garoa.
No “Cilas” encontramos o sortimento e quantidade necessária a nossa avidez gastronômica, apesar de ser um rodízio de pizzas a qualidade e o sabor eram magníficos! Refastelados procuramos o destino cotidiano de quase todo paulista, o metro. Sonolentos e empanzinados pegamos a conexão com os trens urbanos, direção Peruz, pois nosso refugio metropolitano nessa aventura era a periferia. O trem e seu vagar embalava a sonolência do final de noite, na ultima composição se misturavam os últimos trabalhadores, nós turistas do saber e alguns seres inclassificáveis da metrópole. Nas denominações das cercanias do centros urbanos brasileiros, subúrbio e periferia parecem ser diferentes, eu carioca de nascimento e opção estranhei um pouco o soturno e triste vagar das pessoas da periferia paulista indo para casa. Meio que resignadas com seus destinos mecânicos na labuta, diferente do subúrbio do Rio, onde o cansaço é sublimado com um bom copo de cerveja e um papo com o vizinho antes do recolhimento.
Desta aventura na “Paulicéia” levo o encantamento da cultura, e o pesar da distância entre os viventes dessa cidade.

16 maio 2008

Uma Escola Branca

Em um dia do mês de dezembro de mil novecentos e oitenta e cinco eu estava me formando no primeiro grau, o que hoje seria o ciclo fundamental, então com quatorze anos terminava uma fase importante de minha vida. Ali no pátio da escola reunidos amigos , colegas e parentes assistíamos a cerimônia de formatura, me lembro até que minha avó fez um bolo para ser partido ao final da festa.
Naquele momento distraído nem prestando atenção nas formalidades minha mente voava, lembrava de quando conheci o Miguelsinho e Luiz Antônio na aula de educação física, e eles me diziam:
- D. Cleir vai arrancar seu coro, você é muito gordinho!
E riam abessa. Aí deve ter nascido o apelido que me acompanharia durante os próximos anos da minha vida. E rememorava os tempos de aula que ficavam vagos, quando aproveitávamos para jogar Queimado e Basquetinho, aliás as partidas eram sempre entre o time dos meninos e das meninas. Nós garotos, em todo aquele ano, só ganhamos uma partida do time das garotas, que vergonha! Me recordava das professoras que tive, D. Leia que me ensinou a ler, D. Valquiria e seus terríveis beliscões e D. Míriam Maheim que passou-me o vírus da História do qual não me curei até hoje.
Minha atenção voltou para a formatura quando D. Nara, à época coordenadora, foi ao microfone para dizer algumas palavras e encerrar a cerimônia. Suas palavras foram rápidas e curtas, mas ecoam até hoje no meu coração, então depois dos agradecimentos de praxe ela disse:
- Vocês que deixam hoje esta escola, certamente seguirão por vários caminhos. Mas tenham certeza , daqui vocês estão levando seus melhores amigos. Vão com Deus!
Assim naquela escola branca de costas para Ipanema e de frente para o Jardim de Alá, começa a história de um adolescente gordinho na turma mais divertida que ele já teve.

Marcos Khanm ( O Gordinho)