07 setembro 2011

O Green Valey

Nas idas e vindas nos bancos da Universidade Federal Fluminense, fiz bons amigos, aliás a melhor coisa que uma faculdade pode dar para você, por incrível que pareça, não é uma profissão, mas sim o universo de pessoas diferentes que você entra em contato. Dentro desse espírito relatarei a um episódio vivido por Bira Padawan no Green Valey.
Do lado do prédio de história, costumava a existir, um espaço vazio, que se destinaria a construção de um novo prédio do campus, mas que vivia mesmo era cheio de mato. Um belo dia, num desses meus retornos a faculdade, percebi que haviam aparado o mato e no seu lugar havia um belo gramado, que parecia um “green valey”, brinquei com os amigos ao chegar para aula. Nesse mesmo dia fiquei sabendo que a chopada da Psicologia ia ser ali nos pilotis do prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, bem do lado do lindo gramado verde.
Meu amigo Bira era um garoto oriundo do Município de Caxias, baixada fluminense, típico exemplar da mistura étnica brasileira, o quê o populacho designava como “sarara”.Chamava a atenção os traços de negro, mas com pele branca, olhos azuis e cabelo loiro bombril. Aliás, a Uff tinha essa característica, congregar gente de várias regiões da cidade e do estado do Rio de Janeiro. Criado no bairro do Corte Oito, tinha estudado muito para passar para uma universidade federal, e aquele mundo multifacetado e de pessoas diversas era extremamente novo pra ele. Tinha pouco tempo que ele tinha sido apresentado a “um tal de Wisk”, que nas suas palavras “ era muito bom!”. A adolescência de encontros de jovens cristãos tinha ficado pra trás, e a divertidas “más companhias” universitárias eram atraentes por demais. Assim o jovem caxiense não faltaria na badalada chopada.
O curso de Psicologia era muito organizado quando se tratava de festa. Durante duas semanas botaram os calouros para pedir dinheiro nos sinais de Niterói, devidamente pintados dos pés a cabeça, identificados como neófitos acadêmicos. Não compartilhavam da pasmaceira politicamente correta do curso de História, que achava que trote era violação de direitos humanos, e argumentavam os psicólogos que isso era rito de passagem. Com conhecimento de causa afirmavam que não haveriam danos psicológicos nos calouros, e assim conseguiram juntar dinheiro bastante para pagar o som, e comprar birita suficiente para nem um aluno da psicologia pagar por ela.
Tum... Ti, Tummmm, Ti Tum Tum.... Começa a se ouvir pelo campus o som da festa a iniciar, o tilintintar das latinhas de cerveja a se abrir, o burburinho do povo que chegava para a noitada de quinta que se prenunciava. O Campus do Gragoáta é um dos lugares mais bonitos de Niterói, as margens da Baia da Guanabara, tinha uma vista majestosa. A lua que já surgia no horizonte anunciava os vários beijos, que à beira mar fariam parte dessa bela paisagem.
A voz dos professores não fazia mais frente a altura do som, todo mundo já descia para os pilotis, onde a farra estudantil já rolava. Logo encontrei Gabriel, Vitor e Bira que me saudou com sua voz um tanto grasnada e aguda:
- Fala Marcão! Hoje vai ser o bicho a festa! Disse numa euforia juvenil.
- Vamos abrir uma gelada veio?! Respondi já me encaminhando para fila onde se comprava cerveja.
Os pilotis já se pareciam como uma grande discoteca ao ar livre, estávamos um pouco afastados do palco, onde Djs e bandas se revesavam na animação dos jovens recém saídos da adolescência, que queriam tomar cerveja, azarar e discutir Marx e Reich, tudo ao mesmo tempo. Meu grupo era mais de veteranos, a calourada que tava lá no gargarejo num ritimo alucinante. Nos alternávamos na função de pegar cerveja, pois a essa altura da festa era uma missão in glória enfrentar a enorme fila, pra pagar e para pegar a cerva. Numa dessas vezes eu e Bira fomos pegar a gelada para reabastecer a galera, quando na fila encontramos a linda , morena e bela Fernandinha. Ela já tinha sido caloura de História, mas tinha transferido sua matrícula para psicologia, solicitamente nos abordou:
- Gente! Eu sou de Psi agora, vocês não precisam ficar na fila, deixa que eu pego, quantas vocês querem?
Fernandinha tinha no pulso uma daquelas pulseiras coloridas que identificam convidados vips, no caso servia para dizer que ela era de psicologia, logo não pagava a birita. Entrou no caixa, comprou as fichas para gente, entrou no bar e pegou as latinhas. Trouxe também uma guloseima etílica, muito apreciada pelos paladares jovens, uma garrafinha de sangria de vinho. Distribuída a bebida, fizemos mais um brinde as nossas brilhantes futuras carreira como historiadores, quando num gesto muito diligente e carinhoso Fernandinha se dirigiu ao Bira e falou:
- Bira? Você gosta de vinho, que dividir a garrafa comigo?
Os rotundos olhinhos azuis do sarara brilharam, de assombro, emoção e felicidade. Meio sem saber o quê dizer assentiu com cabeça. A bela morena abriu a garrafa , e na falta de copos dividiram a sangria no gargalo da garrafa mesmo. Devido a facilidade da menina de acessar o bar, Bira e ela ficaram incumbidos de pegar a bebida para a galera. A cada vez que eles iam pegar birita uma garrafa nova de vinho vinha junto, e impossível deixar de reparar que os dois já andavam de mão dadas, nessa hora enquanto mais uma vez eles iam buscar as geladas Vitor comentou:
- Ai! Acho que Birinha vai faturar essa.
- É ta rolando um sentimento. Retruquei.
Nessa hora Gabriel que estava quietinho só observando, alias bebia sempre pouco, obserava muito, juntando sempre boas histórias para o dia seguinte, assim enfaticamente decretou:
- Véio! Bira não pegou ninguém até agora nessa faculdade. O “Homo Sarara Caxienses” deve se reproduzir! Ninguém furo olho dele, ninguém chega junto da Fernandinha!
Um gole de vinho ali, um gole de cerveja aqui, o povo conversava , contava piadas e etc... Estávamos perto do gramadinho verde , o Green Valey , nessa reparei que Bira balbuciava algumas palavras no ouvidinho de Fernandinha, que a cada frase dele soltava um leve e doce sorriso. A rapaziada olhava, trocava olhares observando a ação de Bira. Nessa o hora ele olhou pra gente e falou:
- Rapaziada, vou dar uma voltinha no campus e daqui a pouco eu volto.
Cruzou o “Green Valey” em direção a beira da Baia, onde a afamada “corrida de submarinos” ocorria entre os casais. Zé, um amigo nosso, chegou assustado e perguntou:
- É isso mesmo, é o Bira ali saindo com aquela menina?
- É veio os tempos estão mudando, o Sarara vai ser reproduzir!!! Retrucou Gabriel.
A comoção tomou os amigos, nos abraçamos, brindamos ao nosso herói caxiense, torcemos para que ele não tenha esquecido a camisinha, e louvamos o bendito vinho que facilitou a cara de pau do garoto e impediu a timidez de agir.
Depois disso , cada uma tava meio que procurando um rumo da festa, nosso amigo da baixada tava bem encaminhado, tinha muita menina bonita na festa, afinal era chopada da Psicologia, e as mulheres mais bonitas da universidade estavam lá. Estava eu já procurando alguém pra puxar um papo, quando ouço a voz grasnada e aguda de Bira gritando:
- Marcão!!! Ajuda!!!!!
Me virei e vi Bira que vinha cruzando de volta o “Green Valey” com Fernandinha desacordada no colo. Abri um espaço num banco, que existiam circundando os pilotis, e deitamos a menina para socorrê-la. Perguntei o quê tinha havido, Bira meio atônito não respondia nada, mas a própria Fernanda já daria a resposta. Virou a cabecinha de lado, e botou tudo que tinha bebido para fora. Os amigos chegaram para ajudar, a bela morena ainda zonza mostrava a chave do carro e balbuciava coisas ininteligíveis. Perguntei quem estava com a carteira ali e não estava muito doidão. Vitor se prontificou e disse que levaria a garota pra casa, pois sabia onde ela morava, e era perto da sua república ali em Niterói mesmo. Botamos Fernandinha no carro, e eu Bira vimos o automóvel sumir na noite, então Birinha falou:
- Pow Véio! Foi quase...
- Fica triste não, teu dia chega logo! Vamos beber mais uma, que a birita é alegria da alma solitária! Disse eu lembrando as palavras de velhos bebuns.

Um comentário:

Deise Puig disse...

Fiquei com dó do menino "Sarará"... Como bebo pouco, aproveito mais os momentos...
Quero saber do destino da Fernandinha e de seu amigo Sarará...Algum dia rolou?
Vou acompanhar prá ver se você escreve sobre o "RED Valey dos vampiros"