Tem uns dois anos que moro no centro do Rio de Janeiro, segunda maior cidade do Brasil, vim pra cá um pouco antes da pandemia, assim acompanhei de perto o processo de esvaziamento econômico da região, e a ocupação das calçadas por novas modalidades de moradores da rua.
Mesmo antes do primeiro caso confirmado de covid 19 o comércio da região já estava em declínio, a exemplo da rua da carioca onde grande parte das lojas já estava fechada; deixando saudades no meu coração o Bar Luiz e a Guitarra da Prata. Sem falar a Casa Clarin na Avenida Gomes Freire, onde comprei minha primeira guitarra elétrica. A recessão econômica lenta e gradual da cidade e do estado do Rio de Janeiro levou estes comércios à falência, bem antes da pandemia.
No dia dois de fevereiro de 2020 se confirma o primeiro caso de covid na cidade, mesmo com o alerta das autoridades sanitárias o Carnaval não é cancelado e o Reinado de Momo se instaura na cidade e no Brasil. Óbvio que 1,3 bilhão de reais em arrecadação de impostos e serviços superam o risco de propagação de uma doença letal, para as autoridades da extrema direita que se instalaram em todos níveis do Estado Brasileiro à época. Assim a folia segue, agora sabemos que os primeiros vetores de contágio da doença surgiram nesse período.
No final de março há o reconhecimento nacional da pandemia e as primeiras medidas de lockdown, o auxílio emergencial do governo só chegaria um mês depois, a despeito de todas as recomendações das autoridades sanitárias o governo ignorou o devido combate a covid, plantou “fakenews”, fez propaganda de tratamentos ineficientes e retardou a compra de vacinas já desenvolvidas. Todo esse processo lançou de volta à pobreza e miséria cerca de 30 milhões de brasileiros. Aqui no Rio de Janeiro a população de rua triplicou chegando a quase cinquenta mil pessoas, o número de um pequeno exército.
Uma nova modalidade de morador de rua surgiu, além dos dependentes químicos e portadores de doença mental, as famílias que foram despejadas por falta de recursos para pagar o aluguel e os pequenos trabalhadores manuais agora desempregados pela “recessão da Covid”. É verdade que se multiplicaram os corações solidários que passaram a distribuir comida e quentinhas pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, contudo apesar da fome aplacada momentâneamente, a indignidade da falta de moradia continua. O Prefeito de Nova Iorque proibiu despejos durante a pandemia, pois não existe flagelo maior para um indivíduo do que não ter onde morar. No Rio de Janeiro a coisa foi bem diferente, presenciei a instalação de verdadeiros acampamentos nas marquises do centro da cidade, com direito até a cozinha de campanha. A "solidariedade anômica”(Durkeim) dessas pessoas as fez se aglomerarem para poder sobreviver ao abandono do Estado, da Família e do Próximo. Me pergunto agora até quando eles vão suportar isso?
Na França, às vésperas da Revolução Francesa(1789), Maria Antonieta, a Rainha, disse “se o povo não tem pão que coma brioches”(Soboul), demonstrando toda a alienação das elites dominantes. No Brasil do século XXI as elites novamente se descolam do povo, deixando a classe média em maus lençóis, sem saber se apoia os progressistas ou conservadores. Enquanto isso, a legião de miseráveis continua a se adensar nos grandes centros urbanos deste país , como no Rio de Janeiro. Poucas ações para ampará-los estão sendo feitas, pouca coisa além de refeição, muitas vezes disputada a tapa, estão sendo implementadas. Continua aqui a mesma pergunta:
Até quando essa multidão vai suportar essa situação?
4 comentários:
PARABÉNS PELO TRABALHO MARCÃO! !!!
Perfeita as suas colocações. O país à deriva devido ao ÓDIO ao PT e LULA. E que continua a amargar os corações de quem junto com o (DES)PRESIDENTE só pensa na perversidade ao outro.
Triste país!!
Parabéns amigo!!!
Relato breve … sobre a situação caótica que se instaurou na cidade do Rio de Janeiro e no país …
Belo relato de uma junção de despreparo Administrativo e ignorância histórica e Humana, Parabéns .
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