23 junho 2021

Visão Das Ruas

                     


Tem uns dois anos que moro no centro do Rio de Janeiro, segunda maior cidade do Brasil, vim pra cá um pouco antes da pandemia, assim acompanhei de perto o processo de esvaziamento econômico da região, e a ocupação das calçadas por novas modalidades de moradores da rua.

Mesmo antes do primeiro caso confirmado de covid 19 o comércio da região já estava em declínio, a exemplo da rua da carioca onde grande parte das lojas já estava fechada; deixando saudades no meu coração o Bar Luiz e a Guitarra da Prata. Sem falar a Casa Clarin na Avenida Gomes Freire, onde comprei minha primeira guitarra elétrica. A recessão econômica lenta e gradual da cidade e do estado do Rio de Janeiro levou estes comércios à falência, bem antes da pandemia. 

No dia dois de fevereiro de 2020 se confirma o primeiro caso de covid na cidade, mesmo com o alerta das autoridades sanitárias o Carnaval não é cancelado e o Reinado de Momo se instaura na cidade e no Brasil. Óbvio que 1,3 bilhão de reais em arrecadação de impostos e serviços superam o risco de propagação de uma doença letal, para as autoridades da extrema direita que se instalaram em todos níveis do Estado Brasileiro à época. Assim a folia segue, agora sabemos que os primeiros vetores de contágio da doença surgiram nesse período.

No final de março há o reconhecimento nacional da pandemia e as primeiras medidas de lockdown, o auxílio emergencial do governo só chegaria um mês depois, a despeito de todas as recomendações das autoridades sanitárias o governo ignorou o devido combate a covid, plantou “fakenews”, fez propaganda de tratamentos ineficientes e retardou a compra de vacinas já desenvolvidas. Todo esse processo lançou de volta à pobreza e miséria cerca de 30 milhões de brasileiros. Aqui no Rio de Janeiro a população de rua triplicou chegando a quase cinquenta mil pessoas, o número de um pequeno exército.

Uma nova modalidade de morador de rua surgiu, além dos dependentes químicos e portadores de doença mental, as famílias que foram despejadas por falta de recursos para pagar o aluguel e os pequenos trabalhadores manuais agora desempregados pela “recessão da Covid”. É verdade que se multiplicaram os corações solidários que passaram a distribuir comida e quentinhas pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, contudo apesar da fome aplacada momentâneamente, a indignidade da falta de moradia continua. O Prefeito de Nova Iorque proibiu despejos durante a pandemia, pois não existe flagelo maior para um indivíduo do que não ter onde morar. No Rio de Janeiro a coisa foi bem diferente, presenciei a instalação de verdadeiros acampamentos nas marquises do centro da cidade, com direito até a cozinha de campanha. A "solidariedade anômica”(Durkeim) dessas pessoas as fez se aglomerarem para poder sobreviver ao abandono do Estado, da Família e do Próximo. Me pergunto agora até quando eles vão suportar isso?

Na França, às vésperas da Revolução Francesa(1789), Maria Antonieta, a Rainha, disse “se o povo não tem pão que coma brioches”(Soboul), demonstrando toda a alienação das elites dominantes. No Brasil do século XXI as elites novamente se descolam do povo, deixando a classe média em maus lençóis, sem saber se apoia os progressistas ou conservadores. Enquanto isso, a legião de miseráveis continua a se adensar nos grandes centros urbanos deste país , como no Rio de Janeiro. Poucas ações para ampará-los estão sendo feitas, pouca coisa além de refeição, muitas vezes disputada a tapa, estão sendo implementadas. Continua aqui a mesma pergunta:

Até quando essa multidão vai suportar essa situação?


4 comentários:

Unknown disse...

PARABÉNS PELO TRABALHO MARCÃO! !!!

Katia Leal disse...

Perfeita as suas colocações. O país à deriva devido ao ÓDIO ao PT e LULA. E que continua a amargar os corações de quem junto com o (DES)PRESIDENTE só pensa na perversidade ao outro.
Triste país!!
Parabéns amigo!!!

Lucia disse...

Relato breve … sobre a situação caótica que se instaurou na cidade do Rio de Janeiro e no país …

Divagação disse...

Belo relato de uma junção de despreparo Administrativo e ignorância histórica e Humana, Parabéns .