18 junho 2021

Distopia Cotidiana

             


            “Os tempos andam bicudos”, como dizia minha avó, nunca tantos ditados

populares fizeram tanto sentido! Nesses dias pandêmicos as pessoas andam

pirando por qualquer coisa, fora as que já piravam normalmente.

Não quero usar as teorias de “liquidez”, "descentramento" e “desrealidade” que comumente os intelectuais recorrem para explicar a realidade, pois elas explicam, mas resolvem muito pouco. Longe de mim contestar o saber acadêmico, pois passei pela universidade, mas para a maioria do povo os exemplos são mais marcantes e enriquecedores.

“Passarinho que come pedra, sabe o Fi ó fó que tem”. Um clássico dos ditados populares, espelha com clareza nossa situação de resistência às medidas de prevenção contra a covid 19. Apesar de todas as proteções recomendadas pela OMS(Organização Mundial da Saúde), centenas de pessoas não usam máscaras, se aglomeram e desdenham da vacina. Estão achando que seu “Fi ó Fó” vai aguentar o tranco da infecção pela doença. 

“Em lago que tem piranha jacaré nada de costas”. A intolerância ao outro e suas posições cresce exponencialmente, o diálogo está dificultado pela ficção da realidade chamada “minha opinião”. Nada mais é fato , tudo é versão e a chamada “pós verdade” se afirma nas mentes dos menos letrados e informados. O Jacaré , que está no topo da cadeia alimentar, tem que se cuidar para não ser devorado pelas “piranhas das Fakenews”.

“De médico e louco todo mundo tem um pouco”. Machado de Assis em “O Alienista” , reflete sobre os padrões morais da sociedade brasileira do século XIX através do olhar de um médico psiquiatra. Chega a conclusão que há mais loucos fora do hospício que dentro. Em tempos de negacionismo e anti intelectualismo, os ditos loucos estão ditando o padrão de normalidade, o pior , por decreto sem consultar ninguém.

Através destes pequenos ditados e dizeres podemos refletir sobre esse tempo de mudança e exceção que passamos, as coisas não serão como antes, mas também não precisam ser um “apocalipse cotidiano”


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