09 outubro 2013

Desistir do "Jeitinho"?

Numa das tarefas mais cotidianas que existe, ir ao supermercado, me peguei refletindo sobre o Ethos(comportamento) do cidadão carioca. A fila expressa, que só permite comprar vinte produtos, por incrível que pareça é a mais lenta. Muitas pessoas não respeitam o limite de produtos, os idosos , gestantes e deficientes preferem não ir aos caixas preferências engrossando a fila expressa. Me chamou também a atenção uma senhora que se posicionava na beira do caixa, que dizia para as pessoas assim, “pode passar, pode passar, to esperando meu esposo”, ou seja, estava guardando lugar na fila. No ato pensei naquele cartaz que existe na Disney , escrito em português, proibindo furar ou guardar lugar na fila. Quem bota alguém para guardar lugar na fila quer poupar tempo, só me pergunto por que o tempo dessa pessoa é mais importante que o meu? Que esperei um tempão na fila. Eis o “X” da questão, o tal “Jeitinho “ tão arraigado ao cotidiano nosso. O célebre Mario de Andrade já o citava quando contou as aventuras de “Macunaíma – o herói sem caráter “. Outro questionamento invandiu minha mente de roupante: Seria o “Jeitinho” a origem e justificativa da graçante corrupção desse país? Obvio, desde de Julio César e o Império Romano, e até antes, as civilizações convivem com o descomprimento de leis e normas, desvio de recursos e crimes. Contudo esse aspecto do torcer a norma que aqui na nossa gente, parece muito peculiar. Conversando com amigo holandês ele ressaltou que no Brasil, essa corrupção atinge todos os estratos da sociedade, como por exemplo o fiscal de trânsito que recebe propina para não multar alguém. Também ele repara que há um prazer, um gozo em transgredir regras simples de convivência, para obtenção de vantagens irrisórias como furar uma fila. Jeitinho tão natural, com o qual os mais pobres, os mais humildes sobrivivem aos desabores da vida, tão retratado por Sergio Porto, o “Stanislaw Ponte Preta”, ao falar da família do Bairro da Boca do Mato e suas intempéres. Ariano Suassuna, quando retrata a história de João Grilo e Chicó, que até o Diabo emendam. Constitutivo de uma identidade, um “inconciente coletivo”(Jung) que parece as vezes licenciar atos mais hediondos, como a corrupção dos políticos e governantes. Nesse momento que protestos inrrompem em todas as capitais do país, que cobram respeito aos direitos civis e a risca da Lei, é muito profícuo pensar nas atitudes individuais, que afinal de contas conformam as atitudes coletivas, concientes ou não. Há um projeto de nação que é gestado há muito tempo nas Universidades, no Instituto Rio Branco, que vive na boca dos políticos e tempo de eleição. De um país moderno, de base industrial, com um povo instruiído e políticamente ativo, onde estado de bem estar social atinge a todos. Contudo esse projeto esbarra na vontade das elites e dos poderosos em se perpetuarem no poder e no ethos, se não de todos mas da maioria, dos brasileiros, representado alegoricamente pelo “Jeitinho”. Essa crônica não é conclusiva, deixa uma pergunta: Estamos dispostos a mudar, desitir do nosso amado “Jeitinho”?

Um comentário:

Samanta Hilbert disse...

Olha só... bem vindo de volta ao mundo literário! Que permaneça!! :) bjuss