06 novembro 2013

O "Bem" do Governar

Nesses dias em que governar para os visitantes, mais do que para os habitantes da cidade está em plena moda. Vinha eu no metro, semi- enlatado, pois já eram onze horas da manhã, não era hora de rush, contudo estava bem cheio. Ouvindo aquele clássico Rock´n´Roll, que hoje em dia é coisa de velho, meditava sobre as mudanças urbanísticas da cidade. Relembrando os estudos de Brasil, pensava nas coisas que eu li sobre a “Revolta da Vacina”. No contexto da Belle Epóque, o prefeito Pereira Passos perpetra uma grande reforma no Rio de janeiro do começo do século XX. O objetivo era transformar o Rio numa “ Paris dos Trópicos”, acabar com as ruelas e os cortiços que remontavam os tempos coloniais. Também era necessário acabar com enfermidades e pestilências que assolavam a capital federal. Para essa árdua tarefa o médico Oswaldo Cruz foi convocado. Uma das medidas era a vacinação obrigatória. O quê para nosso olhos parece uma coisa boa, para o populacho da época parecia uma abominação. Inocular, injetar o vírus , ou seja, o bichinho da doença, na gente para prevenir a mesma? Loucura!!!!!! Assim no contexto das demolições e remoções que aconteciam na cidade, uma grande revolta aconteceu. Hoje vendo a cidade passar pelas vidraças do trem do metro, pelos menos no seu trecho de superfície, mas também nas vidraças dos coletivos. Me pergunto: Que remodelagem da cidade é essa agora? O que nós estamos fazendo para que os europeus se sintam melhor entre nós, é válido? Que vacina é essa que estamos inoculando para sermos “a cidade olímpica” ? Lembrando as coisas que aprendi com “Tio Aristóteles”, onde a política era arte da boa governança da Polis(cidade) em benefício dos cidadãos. Creio que não é o que está acontecendo no Rio hoje. Que toda cidade precisa de manutenção, melhorias e avanços é “obvio e ululante”. Contudo persiste a sensação de que tudo que está sendo feito é para o conforto das autoridades e empresários que vem ver tanto Olimpíada quanto a Copa do mundo, a exemplo do intuito de demolir o estádio Célio de Barros e o Parque Aquático Julio Delamare no Complexo do Maracanã, para fazer estacionamento para os figurões. Sei que estou “chovendo no molhado” mas remodelar o Porto enquanto tem tanta rua sem asfalto e com rede de esgoto precária, me parece absurdo. Mas um dia ouvi numa mesa de bar que “vivemos no país dos absurdos”... Sem mais casuísticas , é necessário que sejamos consultados sobre tudo isso que está acontecendo, as pessoas que precisam acessar o centro da cidade não foram questionadas se queriam que seu ônibus de sempre não chegasse mais ao seu destino original. Sei também que vivemos numa democracia representativa, onde o poder é delegado aos políticos, mas mudanças fundamentais na vida do cidadão tem que ser perguntadas. Hoje em dia não faltam meios de fazer isso. Nos tempos em que vivemos a “razão de estado” não pode mais ser “uma prerrogativa do Príncipe”, ela tem que andar par e passo com as necessidades do cidadão. Como nos tempos da “Revolta da Vacina”, onde as pedras do calçamento recém trocadas, eram armas contra os agentes de vacina e polícia, hoje os Black Blocs são a expressão mais radical da insatisfação popular. Não que a violência seja o meio apropriado de ação, mas ela é um sintoma da tensão social. Maquiavel na sua mais famosa obra, “O Príncipe”, discorre sobre a arte do bem governar , mas creio que sua maior lição está na dedicatória que este faz a seu antigo empregador Lorenzo de Médici – Dodge de Florença – onde ele diz: “Aquele que quer conhecer a montanha deve ir a planície, bem como aquele que quer conhecer a planície deve subir a montanha. Para conhecer o povo é necessário ser príncipe, para bem conhecer o príncipe é necessário ser povo.” No nosso caso os governantes estão pouco se colocando em nosso lugar. Voos de helicóptero, gastos sem licitação, escolas e hospitais caindo aos pedaços, profissionais mau remunerados. O Bem que o governar pode trazer, é o Bem Comum. Todo o resto é controle, domínio e exploração.

Um comentário:

Sereia Noturna disse...

Infelizmente uma realidade que nos salta os olhos...