10 dezembro 2008

Intelectual de Bolso

Hoje ! Um dia modorrento, no qual o calor faz as maiores moscas varejeiras pouparem energia, rastejando em vez de voar. Vasculho as velhas caixas empilhadas no quartinho dos fundos da casa, misturando meu suor as lembranças poeirentas de uma vida que parece curta na minha memória, mas imensa na materialidade das tralhas acumuladas.
Aquele livro do Nietzsche que nunca li, mas sempre citei pela orelha, o disco do Bruce Springsteen, todo aranhado de tanta festa, o Boquen (espada samurai de madeira) do Aikido, que tanto me ajudou a aprender a arte de não lutar, o retrato da velha namorada, amor infinito mas que não teve nada de eterno, nem durou. Estava atrás de um texto para fazer citação em um artigo, ma acabei me perdendo na memória material de uma vida que parecia ter escorrido pelos dedos como o tempo , mas agora se demonstrava ter sido ponteada por inúmeras façanhas cotidianas. Nem lembrava mais, mas ali estavam guardados todas minhas provas e trabalhos de faculdade, os dez, os oito e por aí vai... Como um caminho , todos estavam arrumados por datas e semestres concluídos. Passando meus dedos por eles, li e reli as agruras e sucessos de minha vida acadêmica, algumas coisas que acreditava, e hoje não acredito mais, idéias que não desenvolvi, e outras que viraram minhas mais fiéis certezas de bolso, todas nessa trilha retalhos que se amalgamaram no que penso e sou.
Voltei ao meu notebook para ver se terminava o meu artigo, mas a concentração já tinha ido para o espaço, na minha saudosista visita ao passado me perdi do que tinha que fazer. Assim resolvi dar uma passeada no mundo cibernético. Fui ao blog de meu dileto amigo Pereira o “Nemeton”, lá ele da vazão aos seus pensamentos e opiniões sobre nosso universo cultural e intelectual. Crônicas que vão de Metallica a Jung, uma coletânea impressionante de conhecimento em extratos que suscitam excelentes reflexões. Ele respondia a um comentário meu sobre uma crônica sua, e me aconselhava olhar as postagens anteriores para elucidar meus questionamentos. Assim o fiz. Para meu deleite e surpresa refiz o pensamento de meu amigo, nos fragmentos soltos percebi também o caminho que ele fez na sua formação. Na colcha de retalhos de nossas suposta intelectualidades sacamos de nossos bolsos de conhecimento, opiniões e reflexões sobre o que nos inquieta e fascina. No Blog, veículo silencioso, expomos tudo que queríamos que fosse lido por nossos interlocutores ausentes, tudo que um dia ficará guardado nesse empoeirado quartinho virtual.

2 comentários:

Adriano Comissoli disse...

Esta é de longe tua melhor crônica. Acho que é porque é a mais pessoal e íntima.
Gsotaria de ver mais algumas como esta.

Carlos Pereira jr (merlimkerunnus) disse...
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