18 novembro 2008

Wasp Out

Lá pelos idos de 1992 estava eu ainda nos bancos dos cursinhos pré-vestibulares, assistindo as aulas de Geografia do Professor Pádua. Seus trejeitos nordestinos, seu humor ferino e aula que mais parecia de política que de geografia nos prendia a atenção. Estávamos estudando os EUA e a formação dos mercados comuns continentais, Merco sul, NAFTA e o Mercado Comum Europeu, hoje a União Européia. Pádua citava outro grande professor, Ricardo Libório ( O “Capitão Caverna” por causa de seus cabelos e barba grande), e suas contribuições vestibulares ao estudo da “Geoestratégia”. Naquele tempo a Primeira Guerra do Golfo preocupava nosso grande professor de geografia, esbravejava ele como a guerra e sua mobilização manipulava a economia mundial. Dizia que implicações do conflito causaram até o adiamento da união econômica dos países europeus. Na época Gorge Bush, o pai, tentava a reeleição frente ao candidato democrata Bill Clinton. Fazíamos as considerações de sempre, sobre o quê poderia ser melhor para a América Latina, um candidato republicano, ou democrata, mas chegamos a conclusão que não mudava muita coisa na verdade, pois os dois candidatos, adespeito das suas posições políticas, não deixavam de ser americanos. Quando um aluno perguntou :
- E se Jesse Jackson( reverendo negro candidato independente) ganhasse?
Pádua deu uma gargalhada, olhou com olhar terno, mas debochado para o aluno perguntador e respondeu:
Meu Filho! Nos EUA só ganharam, e só ganham as eleições candidatos que forem W.A.S.P.
Fora o grupo de Havy Metal de mesmo nome, não sabia a origem da sigla, permaneci em silencio como todos , olhando para a cara de sabichão que Pádua fazia enquanto deixava suspense silencioso rolar no ar. Então quebrou o silêncio falando alto e escrevendo a sigla no quadro, puxou setinhas para exemplificar seu significado, e disse:
- Meus filhos! W.A.S.P! White, Angle-saxon & Protestant! Branco, Anglo-saxão, e Protestante! A matriz da elite americana, só candidatos com esse perfil foram presidentes, e sinceramente o Reverendo Jesse Jackson não tem chance alguma. Só pode fazer um pouco de barulho resgatando a memória do Martin Luther King.
Ficamos pasmos com a observação de nosso mestre, mas fomos forçados a concordar com ele frente aos fatos históricos.
No ultimo 4 de Novembro acompanhei a eleição de Barak Obama e pensei, presidente negro, filho de imigrantes, sendo ameaçado de morte, só falta o Jack Bauer nessa história! (personagem de Kiffie Surterland no seriado 24hs) Contudo uma imagem me marcou demais, e creio que marcou todos. Quando da confirmação da eleição de Obama, a TV focou a multidão, e lá estava aos prantos o Reverendo Jesse Jackson. O que era quase uma piada a 16 anos atrás, agora é uma realidade, a eleição do primeiro presidente negro dos EUA. Não sei o que está pensando o Professor Pádua disso tudo, mas de certo eu e ele estamos vendo uma mudança substancial no ethos americano, não sei se para melhor, ou, para pior, pois Obama ainda é americano. Creio que a “Republica Imperial”, segundo Raymond Aron, está em mutação. Comparado com o maior império do ocidente , o Romano, este quando começou a se miscigenar com os povos bárbaros ao seu redor, e os generais de origem bárbara começaram a se tornar imperadores; este entrou em seu declínio. Será que a eleição de Obama marca o começo da fragmentação do poder americano? Realmente é presunção querer responder essa pergunta, mas não custa ficar de orelha em pé , e olhos abertos.

Um comentário:

Carlos Pereira jr (merlimkerunnus) disse...

Grande Marcão,
Passo por aqui para informar que tentei responder as suas indagações em meu blog na própria postagem. Mas já que passei por aqui, cabe dizer que não creio que o Obama seja propriamente um "presidente negro". Ele representa mudanças internas no imaginário da "verdadeira america", mas não sei até que ponto isso afetará sua relação com o mundo fora dela...
A propósito: E MEUS DVS!!!!!!!!!