16 dezembro 2008

Manuel Carlos e o Reino Encantado do Leblon

Mais um dia em um famoso sebo de Copacabana. Cheguei como sempre nos pontuais 15 minutos de atraso para o expediente do dia. Meu companheiro de turno, Leandro já estava lá com o loja aberta, e os bibliófilos matutinos já estavam povoando a loja. Quilos de lixo estavam nos fundos no chão, os alfarrabistas chamam de lixo livros de Best seller , livros de banca de jornal e qualquer livro de grande tiragem, pois não tinham muito valor de revenda . Sidney Sheldon, Danielle Stills, Paulo Coelho, centenas deles estavam lá, olhei com espanto e perguntei:
- Onde estão as coisas boas que valeram esse lixo todo?
Leandro apontou uma pilha de uns 120 livros no canto da loja. Geralmente as pessoas quando vendem livros usados, vendem livros de algum parente que morreu, vendem porque querem se mudar e não querem levar peso, e querem que o sebo leve todo o lote. Nisso os livros de valor vem misturados com o lixo. Estavam lá extraídos da massa de “Sabrinas “ e “Julias”, uma coleção completa do Asimov, vários volumes do Nelson Rodrigues, sem falar em Flaubert, Guy de Maupassant e outros. Literatura assim da gosto de um Livreiro vender.
O sebo também é um lugar de discussões acaloradas sobre literatura, política , história e assuntos que tenham haver com publicações e livros. Nesse dia em especial estava lá um professor de literatura da UFRJ, Prof. Antonio Carlos, um aficionado que era cliente do sebo desde de que abriu, ia lá sempre não só para achar raridades, mas bater um papo sobre elas. Não existe nem um lugar melhor no mundo para um bom papo sobre livro e cultura do que um sebo. Leandro e o Professor debatiam sobre novelas, nosso literato segurava um volume de “Senhora” de José de Alencar, e divagava sobre o folhetins dos jornais do século XIX e como eles influenciaram a origem das telenovelas. Leandro acrescentava:
- A Novela para mim é crônica social brasileira! Falava animado com o papo. O professor também animado continuava a falar:
- É, se observarmos bem, vários clássicos da literatura nacional foram adaptados para televisão, os revitalizando e os inserindo no contexto popular, como “Gabriela” do Jorge Amado.
Tudo ia bem no nosso debate matutino, varias conexões , as novelas e crônica da cidade, Lima Barreto e Janete Clair andavam de mãos dadas nas nossas elucubrações. Até que o Professor resolveu citar o Manuel Carlos e suas novelas, como por exemplo “Por amor”, e como ele fazia a crônica da vida privada carioca. Nessa hora Leandro ficou indignado, e teceu seu comentário mordaz:
- Ah não Professor! Esse cara não dá! Manuel Carlos e Reino Encantado do Leblon, onde a madame, o segurança e a faxineira moram no mesmo bairro, e mais, compram no mesmo supermercado! Esse cara faz a crônica da ilusão carioca, isso sim!
Gargalhadas ruidosas perturbaram o clima de silencio da loja, até quem não estava no papo riu também. O Professor não conseguiu conter os risos , assentiu com a cabeça e fez um sinal de O.K.

4 comentários:

Lisandro Gaertner disse...

E em poucos anos eu estava atendendo os personagens do Manuel Carlos que, ao contrário das novelas, nâo tinham um tostâo.

Segue o Samba:

"Leblon, é terra de miserável
que só quer trocar e vender,
herdeiros de massas falidas,
fingem que gostam de ler..."

Carlos Pereira jr (merlimkerunnus) disse...
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Unknown disse...

Ixe... Até "Sabrinas" perdidas nesse punhado de coisas... fala sério... nãoé de todo mal assim... rs
Tempo que não falamos mais, né? Apareça!
Beijo da Sabrina (Fco. Beltrão)

Adriano Comissoli disse...

É ponto pro Leandro!
O professor marcou toca nessa. O Maneco realmente é um "ilusionista" de mão cheia, pois o Brasil faz questão de acreditar que o Rio é todo orla do Leblon.