23 julho 2008

"O Velho Torto"

Taplac... klac.... Taplac... Blum, blum blum....
Ruidosamente se abria a porta metálica do sebo, alguns viciados literários já me esperavam na porta , ávidos por novidades e raridades, apesar de ser um sábado de sol em plena e ensolarada Copacabana, parecia que aquelas criaturas pálidas respiravam o ar da Londres de Lorde Byron. Sabe... Sebo é para-raio de maluco, no sábado como aquele, eles batiam ponto na loja. Deixei os tarados bibliófilos a vontade e fui ligar o computador e abrir o caixa da loja. Nessa instante entra na loja meu companheiro de trabalho, Leandro, com uma cara de ressaca e sorvendo um café de boteco fumegante. Eu também estava meio com dor de cabeça pela noitada do dia anterior, por isso mesmo nem tinha ligado o som. Leandro mesmo com ar nauseabundo causado pela réstia de caraspana( também conhecido como rebordosa, feedback de ressaca), fuçou o pilha de disco que tinha chegado na noite anterior , quando seu rosto se iluminou ao vislumbrar um Lp, eu temeroso, pois o gosto musical do meu amigo era meio duvidoso, perguntei:
- What porra is that? ( Que porra é essa para os íntimos)
Ele não falou nada, deu um sorrisinho de canto, ligou a vitrola. Cara... Já sabia que vinha bomba, mas não sabia qual era, num instante ouvi uma introdução musical adocicada e uma voz fininha cantando:
- Voar, voar!
- Subir, subir!
Era Biafra a cotovia de Niterói! Nada contra quem gosta dele, mas para um amante do Rock’n’roll como eu, e de ressaca, aquilo era quase como um murro auditivo. Na hora vociferei:
- Tira esse negocio, se não nossa amizade vai ficar muito abalada!
Nessa mesma hora, adentrou a loja o personagem central dessa história, “O Veio Torto”! Um senhor dos seus cinqüenta anos, que tinha uma deformidade nas costas que não o deixava ficar hereto. Sempre vinha acompanhado de um garotão moreno em trajes de ir a praia. Perguntava sempre pelo mesmo livro numa voz gutural, com sotaque nordestino, que parecia vir das profundezas:
- O senhor tem aí Menino de engenho de José Lins do rego?
Separávamos todos os exemplares que comprávamos para ele, mas se o livro não estivesse em bom estado ele logo reclamava:
- Esse livro ta muito arrombadinho, muito aberto, não gosto de coisa arrombada, gosto de coisa apertadinha, fechadinha!
Assim os exemplares muito danificados ele não levava. Nesse dia não tínhamos nem um exemplar do seu livro predileto. Ele rodou toda a loja e parou na seção de revistas eróticas, virou a cabeça para olhar para alto mirando uma revista em especial, assim pediu a ajuda de meu parceiro de trabalho:
- Leandro meu filho, me alcance aquela revista ali?
Leandro prontamente foi lhe ajudar, perguntando:
- Que revista o senhor quer?
O velho deu um sorrisinho e respondeu:
- Aquela G Magazine ali meu filho.
Leandro pegou a revista com certo estranhamento, mas o cliente sempre tem razão, e disse:
- Sabe, isso é para meu sobrinho, aquele que vem sempre comigo de shortinho, mas eu não gosto disso muito não.
Leandro assentiu com cabeça meio constrangido, voltou a seus afazeres.
O Velho se dirigiu ao caixa, pagou a revista e disse:
- Sou fã de José Lins do Rego, sempre que tiver eu compro, mas se aparecer mas dessa revista guarde para mim, quer dizer, para meu sobrinho.
A vida de sebo é de causos e contos o veio torto deve ainda andar pelas ruas de Copacabana atrás de José Lins do Rego, ou talves, atrás do Rego de José Lins.

Marcos Bezerra, ou como preferirem, Marcos khanm

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