30 julho 2014

Vésperas

Devido a minha formação em ciências sociais, mas especificamente História, não posso deixar de reparar em certos indícios, diria mesmo movimentos cíclicos que nossa sociedade anda esparramando pelas ruas. Longe de qualquer discurso teliolóligico, ou justificativas para resurgências históricas. Não por acaso que 25 anos exatos da promulgação da Constituição de 1988, “a Constituição Cidadã”, irrompem pelo país protestos que aparentemente parecem ter revindicações generalistas, sendo seus líderes o anonimato da massa e suas máscaras negras. As “jornadas de junho de 2013” representam a tomada de consciência de uma geração, que cresceu segundo os preceitos defendidos pelos homens que redigiram nossa Carta Magna. Contudo perceberam as discrepâncias entre o direito do papel e a realidade das ruas. Com cinquenta anos de atraso fizemos nossa “Marcha dos direitos civis”, para deixar orgulhoso o Reverendo Martin Luther King, manifestamos nas ruas de nossas maiores cidades nossa indignação pelo estado atual de nossa política. Quando vi a imagem de uma Av. Presidente Vargas no Rio de Janeiro, tomada pela massa me senti orgulhoso por estar ali. Um ano depois das jornadas de Junho, as forças de segurança do Rio de Janeiro demonstraram ainda estarem aparelhadas para a “repressão” política (nunca pensei usar essa palavra num contexto atual), fazendo prisões preventivas baseadas em suspeitas infundadas e discursos políticos radicais. O Cerco policial da Pç. Saens Penã, com impedimento da passeata anti-copa, sobre o pretexto da segurança nacional, nos mostraram isso. Lembremos também que o discurso da “segurança nacional” é perigoso e dúbio. A Lei da Segurança Nacional da Ditadura Militar permitiu todas as atrocidades que a Comissão da Verdade está investigando agora, baseada também na filosofia de “segurança nacional” o governo americano hakeou, interceptou comunicações e invadiu a privacidade de pessoas pelo mundo todo. O Movimento Occupy, a Primavera Árabe e nossas Jornadas de Junho são um salutar questionamento a como nós, ditos seres humanos, nos organizamos e produzimos riquezas e insumos sobre a terra, bem mais até, como os dividimos. Deixando o Marximos/ Comunismo no seu século, pois já sabemos muito bem como suas experiências se desenrolaram. A maior parte da humanidade abraçou ou vive sobre a égide da economia de mercado ( fora tribos isoladas do Amazonas), porém a inquietação política deste começo de século, tendo comparação só com os fatos acontecidos no ano de 1968, nos sinalizam que racionalidade do sistema começa a falhar. Apesar do objetivo maior do Capitalismo ser o “lucro”, é de consenso que o bem estar individual deve ser preservado e mantido. Assim lucro desmedido sem desenvolvimento social gera violência e conflito. No intervalo do trabalho, tomava eu um cafezinho num boteco próximo, quando ouvi um senhor dizer assim: - Quem ta por cima da carne seca não quer sair de jeito nem um, isso que os manifestantes não entendem , enquanto os políticos forem os “testas de ferro” dos ricos, nada ira acontecer. Atestando que “Vox Popoli, Vox Dei”( A voz do povo é a voz de Deus), nosso perspicaz transeunte definiu com maestria o quê vários sociólogos demoram páginas para explicar. Que a manutenção do poder e do “Status Quo” é vital para quem tem nas mãos o controle da produção e da economia, fazendo de tudo para não perde-lo. A criminalização dos movimentos sociais, as prisões arbitrárias, as distorção dos fatos e não cobertura destes pela mídia corporativa demonstram isso. Sem fazer alarde, alarmismo, ou qualquer tipo de “terror”. Devemos prestar atenção nos sinais, pois as tais “forças ocultas” destes país não se desarticularam, pelo contrário. Senti uma dor profunda ao ver estudantes e professores de novo atrás das grades sob o pretexto da “segurança”, um gosto amargo de “deja vu” tomou meus sentidos. Não acredito que a História se repita, mas seus erros sim. A omissão é o pior deles, devemos ficar vigilantes.

2 comentários:

Anônimo disse...

A triste constatação de repetir erros históricos, criamos a uma democracia, com brechas para práticas com características de ditadura. Será que cochilamos? Talvez embebidos com a Constituição Cidadã. Seu texto Marcos é coerente e abre uma gama de debates acerca do papel dessa pseudo elite, assim denomino, pois, elite é aquela que conhece seu papel e conduz a sociedade, e não apenas se preocupa com os seus particulares, um grupo sem visão, que não consegue alavancar o próprio ganho, prefere antigos esquemas de lucro fácil. Ao seu texto acrescentaria, ou melhor, estenderia a questão da desigualdade social, não essa que acostumamos a ver nos noticiários de forma piegas, mas a desigualdade em visão global. O consumismo é uma praga, aumenta os lucros, mas gera a sensação de se ter menos e de se querer mais. Corrompendo valores, explicitando a desigualdade, excitando violência, sentimentos de revolta. Creio que esse foi um dos "molhos" que levaram a população às ruas, sem bandeiras de partidos, buscando profundas mudanças. Você tem razão, foi lindo, um privilégio ver um movimento tão genuíno. Todavia, como de praxe grupos e não me refiro a nenhum especificamente, pois o que se viu foi todos tentando um "casquinha" dessa expressão popular, de PSOL a PSDB. Agora a repressão mostra sua cara, as bandeiras de partidos foram enroladas, o recuo vergonhoso, só demonstra que não eram os legítimos criadores dos movimentos populares de 2013. Esse grupo de manifestantes que foram para prisão, parece não ter causado grande efeito na opinião pública, a ponto de levar novamente as massas para as ruas. Apesar de todo aparato tecnológico de comunicação, não obtiveram o mesmo carisma e ganhos simbólicos dos manifestantes durante a Ditadura de 1964, comparativamente falando. Os líderes de esquerda na Ditadura eram tão amaldiçoados como os de agora, perseguidos difamados etc.. Mas repito, não contavam na época com aparatos tecnológico de comunicação e divulgação. A minha pergunta para você é o que nos falta? Talvez, porque nos anos da Ditadura, a esquerda contava com intelectuais uma elite pensante, como a turma da OAB, artistas, políticos de expressão, militares etc... E hoje, não reproduzimos esses segmentos. Teríamos, portanto um população acéfala, mas foram 25 anos de Ditadura e depois mais 25 anos de liberdade, porque não nos reestruturamos para por a Ditadura de vez nos livros da História ao invés das páginas do jornal matutino. Minha tese que o nosso grande erro foi abandonar a educação. Durante a Ditadura, toda a repressão possível, entretanto os professores educavam como militantes, não abandonaram seus alunos, era uma educação dirigida pelo Estado, mas era uma educação. Atualmente os professores a pretexto de baixo salários deixam de cumprir sua militância no processo de transformação da sociedade. Deixo para você as palavras do de Paulo Bonavides : " A democracia decaída se transfaz em demagogia, governo das multidões rudes, ignaras e despóticas." Bonavides, Paulo p 225 CIÊNCIA POLITICA 5a ed. Rio de Janeiro, Forense 1983.
Ricardo do Paraizo, igualmente historiador.

Anônimo disse...

Aproveito para também apresentar minha crítica a uma parcela de bibliotecários e arquivistas, que poderiam contribuir com o processo democrático, apenas exercendo o que foi jurado, no momento da formatura. Esta parcela cerceia as fontes de primárias e secundárias (registros e livros) através da manutenção de um “horário de atendimento” a meu ver burocrático e tacanho, bem como cobranças absurdas para reprodução de fontes em instituições públicas. Da mesma forma, limitam acesso aos acervos particulares, alegando compromisso com seus empregadores. Essas fontes são necessárias para escrever e pensar sobre os processos necessários para reflexão e mudança da sociedade. Sabemos e “babamos” sobre as instituições de nações ditas desenvolvidas, onde se tem amplo acesso as fontes. Como exemplo particular, lembro-me do amigo e colega historiador Tarso Vicente que obteve cópias de microfilmes da Torre do Tombo em Portugal. Pois bem as referidas cópias somadas às despesas de contato e remessa para o Brasil, foi infinitamente mais barato do que se o pesquisador obtivesse essas cópias na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. Caro leitor nem ouse a pensar em custos diferenciados para os dois países, pois o custo de confecção dessas cópias é o mesmo em qualquer lugar do mundo, já que o preço é “dolarizado”.